domingo, 29 de novembro de 2009

PROGRAMA DE AÇÃO AFIRMATIVA INCENTIVA CARREIRA DIPLOMÁTICA

Retirado do site Paraná OnLine.


29/11/2009

Cintia Végas Esta semana, o diplomata do Ministério das Relações Exteriores, secretário Tiago Wolff Beckert, esteve em Curitiba falando sobre a carreira diplomática e divulgando o "Programa de Ação Afirmativa do Instituto Rio Branco - Bolsa-Prêmio de Vocação para a Diplomacia". O mesmo tem como objetivo ampliar as oportunidades de acesso de afrodescendentes à carreira diplomática. Para quem deseja ingressar na mesma, 108 vagas serão oferecidas para o próximo ano, através de concurso. As inscrições vão até o próximo dia 13 e podem ser feitas pela internet (http://www.cespe.unb.br/concursos/diplomacia2010). Com O Estado, o secretário conversou sobre estes assuntos e também sobre a posição do Brasil em relação ao resto do mundo.

O Estado: Que posições foram tomadas pelo governo federal, nos últimos anos, que podem estar equivocadas e outras que foram benéficas para o Brasil?
Beckert: Em termos de política doméstica, é difícil não compreender o êxito do governo em ações como combate à fome e à pobreza. Em termos de política externa, a presença do país tem aumentado muito nos últimos anos. Ele tem tido mais influência em fóruns multilaterais e tem crescido consideravelmente em suas relações bilaterais. Falar do que está acontecendo de equivocado é um pouco complicado, pois acho que os pontos positivos têm sido mais visíveis do que os negativos, tanto na política quanto na presença internacional.


O Estado: O senhor acredita que o Brasil está realmente com um peso maior em relação ao resto do mundo?
Beckert: Não, se considerarmos países de peso muito importante, como Estados Unidos e China. Mas acredito que, nos últimos anos, a influência do Brasil cresceu mais do que a de outros países.
O Estado: Quais os pontos mais fortes que o Brasil utiliza para ganhar espaço entre os países mais influentes?
Beckert: O desenvolvimento econômico, sendo que o país tem crescido a taxas entre 4% e 5% ao ano, o que é bastante significativo; o combate à pobreza, que é uma característica bastante importante do país e o credencia a tomar as decisões que toma no meio internacional; e a própria figura do presidente Lula, que é muito carismática e passa confiança para os outros líderes internacionais.


O Estado: Desses últimos encontros com os chefes de Estado de Israel e Irã, o que se pode esperar? Não declarar apoio total a um ou a outro pode gerar problemas à imagem do Brasil?
Beckert: Não vai gerar problemas. A posição do Brasil é tradicional por ser universalista. A política externa brasileira presa muito pelo universalismo. Em visitas ao Brasil, nem os chefes de estado do Irã nem os de Israel ficaram constrangidos. Isto demonstra que eles têm consciência que o Brasil é um país neutro e que tem como intuito colaborar para a criação do processo de paz na região.


O Estado: Como está a liderança na América do Sul? O Brasil não deveria se posicionar com mais veemência em questões de conflitos entre Venezuela, Colômbia e Equador, por exemplo?
Beckert: O Brasil rejeita este rótulo de liderança na América do Sul. O que a gente busca não é a liderança, mas dar o exemplo e tentar criar condições para que a América do Sul se torne uma região de harmonia entre os países. Conflitos na política internacional são inevitáveis, mas a posição do Brasil é respeitar a soberania de cada um dos países. Quando um conflito ocorre, como o aumento das tensões entre Venezuela e Colômbia, o que o Brasil deseja é tentar levar o diálogo e construir uma solução pacífica para a questão.


O Estado: Sobre as fronteiras do País, não seria necessário um controle maior para evitar o tráfico de drogas e armas?
Beckert: É complicado, pois o Brasil tem uma fronteira extensa demais e a maior parte dela encontra-se na Floresta Amazônica, onde o controle se torna difícil. A política interna brasileira tem sido enfática. Tropas têm sido retiradas do Sul, da região do Prata - que era a tradicional região de conflito, onde poderia haver uma guerra - e levadas para a Amazônia. É importante que se tenha uma política de controle, mas não se pode esperar que tudo seja controlado, pois a fronteira é muito grande.

O Estado: Quais são os países com uma diplomacia mais ativa e aqueles que estão à margem dos demais países?
Beckert: A diplomacia brasileira é reconhecida mundialmente pela sua iniciativa, qualidade e preparação dos diplomatas que estão representando o país. Então, eu destacaria o corpo diplomático brasileiro como um dos mais ativos e bem preparados do mundo. Outros grandes países em desenvolvimento, como China, África do Sul, México e Argentina têm uma diplomacia muito presente e influente. Também destaco países que são potências econômicas, como Estados Unidos, que tem um corpo diplomático muito grande, e os países europeus. Nenhum país está à margem da atividade diplomática. Todos, na medida do possível e de suas condições internas, estão prezando pela presença internacional e desejando construir boas relações.


O Estado: Existe algum país onde é mais difícil o desenvolvimento da diplomacia?
Beckert: A diplomacia não é só uma ciência, é uma arte. Ela está envolvida em tudo o que a gente faz na vida. A existência de um conflito interno ou de uma guerra civil não impede que exista diplomacia. Com alguns países, dependendo de seu histórico cultural e de sua formação, a diplomacia tem características diferentes. Porém, a tarefa do Brasil é sempre tentar compreender a posição de cada nação e construir uma negociação com base neste conhecimento. É o que os outros países também tentam fazer com relação ao Brasil.

0 Estado: O Brasil está investindo na diplomacia da maneira correta? Esse é o caminho para ganhar espaço entre as potências?
Beckert: Acho que sim. Tem sido dado muito incentivo ao resgate da tradição da carreira diplomática e à busca de pessoal de qualidade. A ampliação de vagas para diplomatas, ocorrida nos últimos anos, tem trazido para a carreira muita gente boa, qualificada em várias áreas de conhecimento e que estão tendo condições de representar e de estar à frente das negociações do país em vários locais do mundo. Acredito que o Brasil está no caminho correto e que o investimento na política externa é um investimento que pode dar frutos a curto, médio e principalmente a longo prazo.


O Estado: Sobre o Programa de Ação Afirmativa do Instituto Rio Branco. De onde surgiu a ideia de lançar uma iniciativa que permita o acesso de afrodescendentes à carreira diplomática?
Beckert: O Brasil se comprometeu, em vários regimes internacionais, a combater o racismo e promover a igualdade de direitos, melhores condições de vida e trabalho. Isso está sendo aplicado no âmbito interno. O Brasil está realizando no âmbito interno os compromissos que firmou lá fora. Para o desenvolvimento de uma sociedade, é necessário que ela conviva de maneira harmoniosa e que haja integração. Esse programa é o primeiro e único em âmbito de concursos públicos federais, que cria condições para que um maior número de afrodescendentes possa ser integrado ao corpo de trabalho federal. É um programa que não cria cotas, mas dá bolsas de estudos - de incentivo de R$ 25 mil, parcelado entre março e dezembro - para que a pessoa beneficiada possa fazer cursos e comprar livros. Tenta sanar um pouco de uma desigualdade que inegavelmente existe no Brasil. A carreira diplomática, que representa o Brasil no exterior, deve ter a cara do Brasil. Trazer a afrodescendência para a carreira e dar incentivos para que os afrodescendentes entrem no Itamaraty é dar incentivos para que o Brasil seja representado mais fielmente no exterior. É contribuir para que as características do país estejam em evidência.

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Muito axé e militância pessoal e obrigado pelos comentários.