quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

COTISTAS DA UFSC TEMEM PERDER AS VAGAS

Retirado do do site G1.
23/01/2008 - 07h00 - Atualizado em 23/01/2008 - 09h40
Candidatos que foram aprovados pelas cotas já procuravam repúblicas para morar. Vestibulandos não-cotistas comemoram a suspensão do sistema de reservas de vagas.
Fernanda Bassette Do G1, em São Paulo


Candidatos aprovados no vestibular 2008 da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC ) pelo sistema de reserva de vagas estão preocupados com a decisão judicial que suspendeu em caráter liminar (provisório) o regime de cotas. Eles temem que a decisão não mude até a data da matrícula, que acontecerá nos dias 14 e 15 de fevereiro, com exceção do curso de engenharia de materiais, que realiza matrícula nos dias 31 de janeiro e 1º de fevereiro.


Arquivo Pessoal
Gilmar foi aprovado pelas cotas e teme perder a vaga

(Foto: Arquivo Pessoal)

Gilmar Tenório de Melo, 21, que mora em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, foi aprovado no curso de engenharia de controle e automação graças ao sistema de reserva de vagas para negros que estudaram em escolas públicas. Ele fez 49,99 pontos enquanto o último candidato que concorreu pelas vagas universais fez 75,19 pontos.

A preocupação de Melo é com relação às conseqüências que essa decisão judicial causou, principalmente para candidatos de outros estados ou cidades. "A lista de aprovados foi divulgada em dezembro. Eu já fiz planos para me mudar para Florianópolis e pretendia procurar uma república antes de me matricular. Agora, com esse monte de ações contra a universidade, fiquei preocupado".

Melo disse que só prestou vestibular na UFSC por causa da reserva de vagas. "Sempre estudei em escola pública, por isso minhas chances aumentariam pelo sistema de cotas. Essa é uma medida que não resolve o problema da educação, mas a curto prazo alivia um pouco", disse. Caso as cotas sejam mantidas, o calouro afirmou que não temerá ser vítima de preconceito. "Vou fazer a minha parte sem dar bola para comentários. Vou levar numa boa, desde que isso não prejudique meus estudos", afirmou.

Arquivo pessoal
Leonardo passou para o curso de jornalismo graças às cotas e já passou por um trote com os amigos

(Foto: Arquivo pessoal)


Comemoração com os amigos
Recém-aprovado no curso de jornalismo da UFSC pelo critério de cotas para negros de escolas públicas, Leonardo Lima, 18, comemorou com a família e com os amigos a aprovação no vestibular. Ele disse que fez cerca de 40 pontos para conseguir a vaga enquanto a nota mais baixa dos vestibulandos que concorreram pelo sistema universal foi de 69,1 pontos.
"Fiquei bastante preocupado com a decisão judicial porque comemorei a aprovação com minha família e amigos. Os nossos nomes foram divulgados e se isso não valer mais causará um transtorno e um constrangimento muito grande. Se é para proibir as cotas, que proibam para o próximo vestibular e não para esse, já que a lista de aprovados já foi divulgada", disse.

Cotas para escola pública
Situação semelhante enfrenta o estudante Otávio Speck Pereira, 17, que foi aprovado no curso de direito diurno pelo sistema de cotas para estudantes de escolas públicas. Ele não quis dizer a sua pontuação, mas a maior nota dos candidatos nessa situação foi de 77,27 pontos contra 75,10 pontos do último convocado pela classificação geral.

Pereira diz que teme perder a vaga e critica a decisão da Justiça Federal. "Só prestei esse vestibular e fui aprovado dentro dos critérios previstos em edital. Todos que se inscreveram sabiam das condições para serem aprovados. Os nomes já foram divulgados e seria muito ruim isso mudar. Mas só me resta esperar a decisão final da justiça", disse.

O estudante disse que deverá acontecer exclusão dos alunos cotistas quando as aulas começarem, mas afirmou que acredita na sua capacidade. "Sei que sou capaz e posso me destacar. O preconceito dos outros não vai afetar o meu desempenho".

Os que se beneficiam com a liminar
Na contramão dos estudantes cotistas que temem perder a vaga por causa da decisão judicial, vários vestibulandos que tiveram uma boa pontuação nas provas mas não foram aprovados estão torcendo para que as cotas sejam suspensas em definitivo.

Arquivo Pessoal
O vestibulando Thiago fez 73,7 pontos e não conseguiu uma vaga no curso de engenharia

(Foto: Arquivo Pessoal)



Thiago Marcos Nahas de Faria, 19, é um desses exemplos. Ele prestou vestibular para o curso de engenharia de controle e automação e fez 73,7 pontos, mas não foi aprovado. Sem as cotas e com essa pontuação, provavelmente ele conseguiria uma vaga no curso. O último candidato negro que foi aprovado nessa carreira fez 32,41 pontos. Quando soube da decisão judicial comemorou, mas disse estar "com os pés no chão", já que a decisão é provisória.

"Os candidatos entraram com notas muito baixas. Bastava não zerar em nenhuma matéria e tirar mais que 3 na redação que você estava aprovado. As notas dos cotistas e não-cotistas são muito diferentes", reclamou o estudante, que afirmou ser contra a política de cotas. "Elas deveriam ser medidas emergenciais para melhorar o ensino público. Há faculdades que têm cotas há muito tempo e mudou alguma coisa? Não. O ensino público continua ruim", disse.

O vestibulando Lucca Guedes Secco, 17, que prestou vestibular para o curso de engenharia civil e não foi aprovado por causa das cotas também comemorou a decisão com cautela. Ele fez 63 pontos na prova, enquanto o último cotista negro fez 31,53 pontos.

"Comemorei a decisão da justiça, mas não quero me iludir. Sou contra as cotas porque acho que elas são uma forma de tapar o sol com a peneira. Vou esperar a decisão final, mas enquanto isso estou prestando outros vestibulares", afirmou.

Entenda o caso
O sistema de reserva de vagas da UFSC foi suspenso na última sexta-feira (18) por uma decisão liminar do juiz federal Gustavo Dias de Barcellos, de Santa Catarina. De acordo com o magistrado, a matrícula dos calouros deveria ser feita entre aqueles que conseguiram a maior pontuação, independente da reserva de vagas. Com a liminar, os candidatos aprovados pelo sistema de cotas perdem direito à vaga, se tiverem pontuação menor que a dos demais vestibulandos. A universidade já informou que vai recorrer.

A lista de aprovados no vestibular 2008 da UFSC foi divulgada no dia 28 de dezembro. Veja os classificados
aqui. A universidade também divulgou as notas dos candidatos classificados por curso, as notas dos candidatos oriundos de escola pública classificados e as notas dos candidatos autodeclarados negro classificados.

Este é o primeiro vestibular com cotas na UFSC. Ao todo, 20% das vagas são destinadas para alunos de escolas públicas e 10% para negros que estudaram em escolas públicas.

O professor Edemir Costa, presidente da Comissão Permanente dos Vestibulares (Copeve) da UFSC, disse que a UFSC entende que a autonomia universitária é o principal argumento para justificar a criação do sistema de cotas.
Com relação à pontuação dos candidatos, o professor Costa afirmou que existe uma nota mínima a ser alcançada por todos eles e que nem todas as vagas destinadas para os alunos negros de escolas públicas foram preenchidas. "Essas vagas que sobraram automaticamente foram direcionadas para o vestibular geral", disse.

Costa disse estar confiante que a universidade vai conseguir derrubar todas as liminares em decisões de segunda instância (são pelo menos 44 ações contra a universidade). A expectativa dele é resolver essas pendências na primeira quinzena de fevereiro.


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