22/01/2008 - 09h18 - link da matéria aqui
MARIO CESAR CARVALHO
da Folha de S.Paulo
EVA JOORYColaboração para a Folha
O Ministério Público abriu um inquérito civil para investigar a eventual prática de racismo nos desfiles da São Paulo Fashion Week.
A apuração cita como ponto de partida os levantamentos publicados pela Folha nos últimos dias 17 e 18. Nesses dias, passaram pelas passarelas 344 modelos, dos quaissó oito eram negros --2,3% do total.
A proporção de negros nos 40 desfiles ocorridosdurante todo evento não difere muito daquela dos dias citados. Levantamento da Folha aponta que só 28 dos1.128 modelos eram negros --ou 2,5%.
Segundo dados do IBGE de 2006, 6,9% da população brasileira se declaram negros, 42,6% dizem ser pardos e 49,7% consideram-se brancos.
As promotoras Érika Pucci da Costa Leal e Cláudia Maria Beré, do Grupo de Atuação Especial de Inclusão Social do Ministério Público, justificam a investigação por considerarem que é "necessário ocombate à prática de todas as formas de discriminação, mais ainda quando ocorrem em eventos da magnitude erepercussão da SPFW", como escrevem na abertura do inquérito.
Às 21h de ontem, o diretor da SPFW, Paulo Borges, ainda não sabia da abertura do inquérito, mas disse que, na sua opinião, deveria tratar-se "de alguém querendo se promover às custas do evento".
"Esse problema [da escassez de modelos negros nas passarelas] existe há muito tempo, e a culpa não é dos estilistas, é de todo um sistema. Se quiserem resolver o problema da discriminação no mercado de trabalho, que comecem nas escolas, nos berçários, nas periferias. O Ministério Público que vá a esses lugares para obrigar que haja alimentação, educação e oportunidades para todos. No abrigo onde eu adotei o meu filho, tem 30 meninos iguais a ele", afirmou.
Recentemente, Borges adotou um menino negro de doisanos. Para a edição inverno-2008, a organização da SPFW escolheu como tema a diversidade racial, cultural e social.
Na opinião de Borges, a escassez de negros nas passarelas "é resultado da exclusão cultural, social e econômica". "Mas o fato é que também há poucos negros preparados para a carreira de modelo. Não é preconceito, é uma herança. Quem tem que mudar isso é a sociedade", afirmou ele.
Falta boa vontade
Na opinião do "stylist" Sandro Barros, alguns temas e temporadas não combinam com modelos negras. "É mais fácil ver negros nos desfiles de verão", diz.
Para o estilista Renato Kherlakian, a desproporção entre modelos negros e brancos nas passarelas é resultado da "falta de boa vontade". "Não adianta ter um "casting" de 40 modelos com um negro apenas. É preciso garimpar melhor. Tem negros lindos, mesmo se o corpo às vezes não corresponde às medidas necessárias. A falta deles nas passarelas só prova que o mercado de moda não evoluiu", afirma Kherlakian.
O estilista Dudu Bertholini, das grifes Neon e Cori, afirma que em seus desfiles há sempre negras, mas que neste ano suas modelos favoritas estavam fora do Brasil. "Pior que não chamar negros é colocar alguns só para provar que não temos preconceitos" , diz ele.
Folha de São Paulo, domingo, 20/01/08
"Mercado" é culpado por escassez de modelos negros no mundo da moda (link restrito para assinantes do jornal)
PAULO SAMPAIODA REPORTAGEM LOCAL
Ninguém na SPFW é racista. A média de modelos negros por desfile é dois, para cerca de 40, mas a culpa é do mercado. "Mercado", aqui, é sujeito indeterminado.
Os agentes de modelo dizem que "o mercado não pede" negro. "Cabelo liso é sempre mais requisitado" , afirma o coordenador de "new faces" da Elite Models, Marcos Cunha.
Ele diz que apresenta sem distinção as modelos para os estilistas, mas, de cada cinco oferecidas, em geral apenas uma escolhida é negra.
Cunha cita o exemplo de Rojane, vencedora do último concurso nacional da agência. "Ela é negra, concorreu com 34 mil inscritas e ganhou, mas, se eu te disser que ela é tão requisitada quanto as vencedoras brancas de outros anos, vou estar mentindo. A proporção é 70% a 30%", conta Cunha.
Os estilistas dizem o contrário: o problema é a carência de oferta nas agências. "Eles oferecem poucos negros. Eu sou o primeiro a fazer homenagens: no meu desfile coloquei a rosa negra, que é a mais rara de todas", diz Tufi Duek, em cujo desfile havia uma negra.Waldemar Iódice afirma que, graças a ele e a sua idéia de colocar Rojane (a vencedora do concurso da Elite), vestida apenas com colares, ela foi capa de todos os jornais. "Sempre coloquei os negros em destaque no meu desfile, mas as agências nos dão bem menos opções", diz Iódice, que nesta temporada chamou dois negros.
Boa parte dos estilistas da semana de moda prefere não dar entrevista sobre o assunto.Para Laura Vieira, da agência de modelos Ten, "o número de negros que aparecem querendo ser modelo é bem menor". "Eles não procuram tanto a carreira", diz Vieira.
O diretor de planejamento da agência de publicidade F/Naszca, Fernan Alphen, afirma que "no fundo, é preconceito puro e simples". "Usa-se a palavra "mercado" para justificar essa força oculta. Na verdade, o preconceito não é racial, é social: isola por medo do outro. O negro é supostamente mais pobre e, por isso, não tem acesso à informação, não tem gosto. E, como a moda tem essa pretensão de divulgar tendência, ela quer fazê-lo entre a elite branca", acusa Alphen.
Marco Aurélio Casal de Rey, da Ford, agência de modelos, explica que, nos desfiles de inverno, a situação fica ainda pior. "Em geral os negros estão associados a verão."
Ele conta que, mesmo as morenas, o "tipo brasileiro", muitas vezes precisam estourar fora do Brasil para então fazer sucesso aqui.
"Sou sincero: a gente oferece negras, mas maioria dos estilistas prefere a beleza nórdica, européia", diz, sem citar nomes. Ele explica que apenas 10% de seu "casting" é composto por negros. O mesmo acontece com os orientais.
Entre as tops negras da Ford estão Samira Carvalho, Carmelita Mendes e Patrícia de Jesus.O empresário Helder Dias, dono da HDA, agência especializada em modelos negros, reivindica para si a "descoberta" de Samira. "O pessoal da Ford a viu em um desfile da Pacco Rabane, no hotel Unique, e levou", queixa-se Dias, ele próprio negro.
Para ele, além do racismo com os negros, existe uma panelinha de agências, e algumas modelos só se tornam tops quando vão para as grandes.Mas aí já é outra briga...
Dando mais uma passeada pela net e com a ajuda das listas de discussão, neste caso do gtacoesafirmativas@yahoogrupos.com.br, achamos postagem da emilianas. Notem o dia e o ano.
14 Julho 2006
FEBEAPÁÁfrica fashion e bem brasileira
Na SP Fashion Week que homenageia a África, o excepcional é encontrar modelos negros nas passarelas. A coluna fez uma rápida contabilidade: no desfile da Uma, anteontem, das 45 modelos, duas eram negras. De 26 modelos que desfilaram para Patrícia Vieira, três eram negras; no masculino da Zoomp, eram 20 homens, quatro deles negros; no feminino, 32 modelos desfilaram. Três eram negras.
A consulesa-geral da África do Sul, Thanmi Valihu, se dizia orgulhosa: "A África está aparecendo no mapa". Jacimar Silva, diretor de marketing da Sais, de Amir Slama, concorda: "Há dois anos, tínhamos duas negras. Agora, são três, quatro".
Tomando champanhe Chandon com canudinho numa mini-garrafa distribuída depois do desfile da Zoomp, a louríssima Gianne Albertoni diz ter adorado o tema da semana de moda. "A gente tem muita negra linda no Brasil", diz. E na passarela? "Olha, o país tem negras lindas, só não sei se tem muita negra no mercado. As negras são lindas, né? Fora o corpo, todo durinho! Só não sei se elas querem ser modelos."
Sobre cotas para negros nas universidades, Gianne tem dúvidas: "Cotas? Como assim? Aquilo que tem nos EUA?" Ela pára a entrevista para cumprimentar amigos. Volta à conversa. "Ah, cotas... Olha, não "tô" por dentro. Acho que é palhaçada. Todo mundo é igual: preto, branco, amarelo..."
[calma, calma, tem mais....]
Para a modelo Barbara Fialho, cabelos castanhos claros e olhos azuis, a predominância de modelos com pele clara reflete a demanda do mercado: "A modelo tem que ter o corpo e a cor que as compradoras querem ter. E a mulher que compra é clara".
A modelo Camilla Finn, pele rosada, afirma: "O preconceito vem das clientes".
[mas ainda não acabou...]
Já Carol Trentini acha que é "legal trabalhar com o tema África e ter mais brancas na passarela. Assim o mundo vê que há brancos no Brasil". Ela explica: "A imagem que o pessoal de fora tem é a de que no Brasil só tem mulatas. O povo fica pasmo quando digo que sou brasileira".
fonte: Folha de SP, coluna da Monica Bergamo, 14/07/06
Outros links sobre este caso
Cadê os negros dos desfiles brasileiros?
Modelos protestam no Fashion Rio
Passarela negra?!
Cadê as nossas meninas negras??? Alguém viu?? (nesse link tem fotos das 4 modelos negras que desfilaram e sugestão de 8 que poderiam estar lá)
Bom no youtube não tem nada. Li em algum lugar que saiu uma reportagem no Jornal Nacional então depois entro no globo vídeo e puxo o vídeo.
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Muito axé e militância pessoal e obrigado pelos comentários.