05.05.08 Hoje em Dia- professor UFBA com Qi racista renuncia
Retirado do Correio da Bahia.
05/05/2008
Professor renuncia
Coordenador do curso de medicina da Ufba deixa o cargo após declarações consideradas racistas
Cilene Brito
Após causar polêmica com as declarações feitas sobre a baixa inteligência dos baianos, o coordenador do curso de medicina da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Antônio Natalino Manta Dantas, 69 anos, anunciou a sua renúncia ao cargo, no fim da tarde de ontem. O pedido foi feito ao diretor da Faculdade de Medicina, José Tavares Netos, na noite da última quarta-feira, mas por causa do feriado o documento só será protocolado hoje. Até mesmo o reitor da Ufba, Naomar Almeida, desconhecia o fato.
Através de uma nota de esclarecimento encaminhada à imprensa, Dantas diz que tomou essa decisão em razão da repercussão e do mal-estar causados pela interpretação dada às declarações. “Não sou racista ou preconceituoso e acredito em Deus. Peço desculpas. Não tive a intenção de ofender a quem quer que seja”, disse.
O professor afirmou que não tem restrições à inteligência da comunidade baiana ou qualquer outra. Ele justifica suas declarações desastrosas com o fato de ter sido pego de surpresa diante da cobrança dos jornalistas para se manifestar sobre o baixo desempenho dos estudantes de medicina no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) – que classificou a faculdade entre os 17 piores cursos de medicina do país.
“Por força de um estado emocionalmente comprometido e por uma profunda tristeza, uma irritação incomum e um assomo de destempero arrastaram-me a uma manifestação inadequada, da qual expressamente me redimo”, desculpou-se o professor. Apesar de declarar claramente o seu posicionamento sobre o assunto, Dantas disse que suas declarações foram distorcidas pela imprensa e que não teve intenção de culpar o sistema de cotas pelo mau resultado.
Ele salientou que o resultado do Enade refere-se ao período anterior a sua gestão como coordenador do curso, cujo cargo foi ocupado há apenas um ano.
Olodum e berimbau – Sobre as declarações ofensivas à banda Olodum, quando disse que a mesma não faz música, Dantas assinalou que tem direito de expressar as suas preferências musicais. Já sobre o berimbau, ele reconheceu que teve uma visão distorcida do instrumento. “Sobre o berimbau, por exemplo, a minha falta de familiaridade com o mesmo me levou a uma noção distorcida. Diante das explicações dadas nos últimos dias pelos experts, contudo, passei a concebê-lo como um instrumento musical complexo e de difícil execução”, retifica o professor, no comunicado enviado aos jornalistas.
Segundo o advogado de Dantas, Antônio Vieira, o professor não deve falar sobre a renúncia por enquanto. “Ele ficou muito desgastado com a repercussão do caso. Ele tomou essa decisão para evitar mais comentários”, avaliou Vieira.
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Medidas discutidas em assembléia O diretor da faculdade de medicina, José Tavares Neto, disse que não se posicionará sobre a renúncia do coordenador do curso até a assembléia que acontecerá hoje entre professores, estudantes e funcionários, no pavilhão de aulas do Canela, às 9h. No entanto, as medidas adotadas pela direção da faculdade contra o professor só serão definidas amanhã, durante a reunião da Congregação da Faculdade de Medicina.
Tavares Neto salientou ainda que, apesar da renúncia ao cargo de coordenador, Dantas ainda continuará com o cargo de professor da universidade, até o mês de setembro, quando completa 70 anos.
Já o reitor da Ufba, Naomar Almeida, disse que foi pego de surpresa. Para ele, a decisão do coordenador “pode contribuir para solucionar a crise negativa que foi instalada na instituição”.
Manifestações - O pedido de desculpas, no entanto, não foi aceito pelo presidente da banda Olodum, João Jorge Rodrigues. Ele afirma que manterá a queixa prestada ao Ministério Público Estadual e pretende entrar com nova queixa na Justiça, com pedido de reparação por danos morais. Hoje, ele e outros representantes do movimento negro na Bahia participarão de um ato contra as declarações de Dantas na sede da Reitoria, no Canela, às 8h.
“Eu acho a decisão dele importante, porque as suas palavras comprometeram bastante sua posição na universidade. Estamos felizes com a renúncia dele. Não somos contra o professor, mas contra os atos racistas dele. Ele deveria fazer uma retratação pública”, avaliou.
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Muito axé e militância pessoal e obrigado pelos comentários.