terça-feira, 24 de junho de 2008

BRAÇO FORTE, MÃO AMIGA?

Retirado do blog Palara Sinistra.
Autor: Paulo Rodrigues

“Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos
Dando porrada na nuca de malandros pretos
De ladrões mulatos e outros quase brancos
Tratados como pretos
Só pra mostrar aos outros quase pretos
(E são quase todos pretos)


E aos quase brancos pobres como pretos
Como é que pretos, pobres e mulatos
E quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados”
(Haiti - Caetano Veloso e Gilberto Gil - 1993)



É, estamos em guerra. Há muito tempo o Rio de Janeiro contrasta sua beleza natural dos segundos cadernos com as páginas policias dos jornais populares. O sol que ilumina a Lagoa é o mesmo que também ilumina o Aterro Sanitário de Gramacho, onde os corpos nada dourados da juventude pobre e preta foram encontrados, vítimas de mais uma chacina promovida por criminosos. E auxiliadas por ninguém mais, ninguém menos do que os integrantes do Exército Brasileiro. A quem Moniz Barreto, na carta a El-Rei de Portugal (1893) define como “... Seu nome é sacrifício. Por ofício desprezam a morte e o sofrimento físico. Seus pecados mesmo são generosos, facilmente esplêndidos. (...) Quando eles passam juntos, fazendo barulho, os corações mais cansados sentem estremecer alguma coisa dentro de si. A gente conhece-os por militares... (...) Eles, porém, calados, continuam guardando a Nação do estrangeiro e de si mesma. Pelo preço de sua sujeição, eles compram a liberdade para todos e os defendem da invasão estranha e do jugo das paixões. Se a força das coisas os impede agora de fazer em rigor tudo isto, algum dia o fizeram, algum dia o farão. E, desde hoje, é como se o fizessem.”
Foi decretada e oficializada a Corte Marcial para civis negros, moradores de favela, para qualquer um que não lhes agrade às fuças. Com direito a pelotão de fuzilamento e tudo. E o que nós, que somos apenas da mesma cor das vítimas-réus-prisioneiros, que talvez nem moremos em favelas ou bairros populares, que nem freqüentamos bailes-funk e não temos coragem de fazer uma tatuagem (que neste caso ajudou um parente a identificar o corpo de Wellington Gonzaga da Costa, de 19 anos, que teve o rosto mutilado) temos há ver com isso? Claro, além de pagarmos os soldos das Forças Armadas, parece que mais nada, é apenas uma realidade distante, transmitida em HDTV. Mas não é! Porque estamos cercados. Todos estão cercados: de um lado a polícia militar que pára, prende, revista, achaca, humilha. Do outro lado as milícias fazem a mesma coisa. E ainda têm os bandidos de fato, os bandidões mesmo, com ficha criminal, penas a cumprir. E agora os soldados. Todos fazem isso conosco. Com os jovens do morro da Providência (dois com passagens pela polícia, talvez justa ou injustamente, mas como a maioria dos jovens hoje em dia. E o pior é que no desenrolar dos fatos, o tenente que comandou a “operação”, desobedeceu às ordens de seu superior, que havia mandado soltar os adolescentes por achar que os mesmos não haviam cometido nenhum desacato. Mas esse mesmo tenente resolveu punir de “maneira exemplar” os ofensores, com requintes de sadismo: conduziu-os para outra favela, onde o tráfico é comandado por uma facção criminosa rival a facção do bairro dos garotos. E lá aconteceu o que todos nós já sabemos pelo noticiário. Em depoimento, este militar disse não estar arrependido da ordem dada ao seu pelotão.
Então, estamos em guerra! E a tropa envolvida nessa atrocidade deve ser julgada por crime de guerra e contra a Humanidade. Não basta o ministro pedir desculpas. Não basta prender os traficantes, não basta retirar os militares do local das obras, não basta responsabilizarem os culpados, como o senador candidato a prefeito do Rio que, se utilizando de poder (não seria ele também um traficante de influência?) colocou soldados rasos para ser mão-de-obra na obra da favela.
Em 1955, Emmett Till, um garoto de 14 anos de Chicago, foi chacinado por brancos no Mississipi, levando os negros americanos a fazerem uma revolução pelos Direitos Humanos dos negros e de todos. E nós, povo cordato e pacífico, de boa índole, pacatos até, não vamos reagir? Não vamos nos rebelar? Não vamos lutar por nossas vidas?

2 comentários:

  1. Prezados, que bom que vcs repostaram aqui meu artigo. Só faltou citar o autor,que sou eu: Rolo. Abs. Rolo

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  2. Mil perdões, vai ser retificado imediatamente.

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Muito axé e militância pessoal e obrigado pelos comentários.