terça-feira, 5 de agosto de 2008

ENTREVISTA COM JÚLIO CÉSAR TAVARES, PROFESSOR DA UFF

Retirado do site do jornal IROHIN.

05/08/2008 - 09:05:28
Júlio Tavares: “precisamos aprender, desenvolver e ampliar as formas positivas da dor, do sofrimento e da humilhação”
Por Diony Soares *


O doutor em Antropologia Júlio César de Tavares, da Universidade Federal Fluminense, proferiu a conferência de encerramento do V Copene, na noite de 01 de agosto, no Auditório da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás. Além de refletir sobre os Estudos Negros, o professor lançou o livro Diásporas africanas na América do Sul: uma ponte sobre o Atlântico, que conta com fotografias de Januario Garcia. Júlio César de Tavares concedeu entrevista exclusiva para o Ìrohìn.

D.S. – Na sua avaliação, quais são os desafios e os novos horizontes dos Estudos Negros?
Júlio Tavares – Na verdade, eu estou me desafiando a falar desta desafiante proposição que é pensar o caminho que estamos tomando, refletir sobre qual trabalho estamos fazendo, onde nos encontramos e até onde devemos seguir. Eu vejo uma quantidade enorme de desafios. No ponto de vista da nação, já avançamos muito sobre o racismo. Só o fato de os aliados se transformarem em adversários e, em seguida, os adversários se transformarem em inimigos mostra o salto maravilhoso na demonstração da luta contra o racismo. Porque começamos a desmascará-lo. Começamos a quebrar com paradigmas, a descortinar o mecanismo de dissimulação que é histórico na colonização do ultramar. Não podemos pensar o caso brasileiro como um caso único. O caso brasileiro é o caso de Angola, é o de Moçambique, é o da Guiné. É o caso do império colonial português. O caso exatamente da dissimulação. Como é que um povinho pequenininho daqueles, de meia dúzia de pessoas, consegue criar o maior império colonial da história moderna? Existem mecanismos muito sérios de linguagem, de sedução e de dissimulação que permanecem ainda hoje nas relações inter-pessoais e nas estruturas cognitivas. No modo da população negra ver, olhar e encarar o mundo. O processo de desmascaramento inicia no outro, mas o ponto maior é em nós mesmos. Eu acho que estamos entrando agora no momento mais crucial, no desafio maior que é a luta da descolonização mental. A luta contra a colonialidade. A luta contra a injustiça cognitiva. A luta contra o colonialismo cognitivo. O colonialismo que está dentro de nós. Não é a toa que Frantz Fanon foi reeditado. Estamos entrando na fase existencial da luta política. Saímos daquela fase material desta luta. Este é um momento de profundas transformações físicas, emocionais e sociais. Isso vai implicar também em novas pedagogias e novos rumos na definição dos horizontes epistemológicos dos nossos objetos de estudo. Falo como professor, como pesquisador, como um cidadão preocupado com formas de aprendizado. Falo também como um brasileiro preocupado com o desenvolvimento da nação. Nós temos um problema típico ao que ocorreu há cem anos atrás. O que demonstra cem anos de atraso e a profunda colonialidade a que estamos submetidos. Estamos vivendo um dilema entre o ensino universitário e o ensino técnico no Brasil. O que nós, negros, estamos pensando a respeito disso?


D.S. – Este dilema já aconteceu em que lugar?
Júlio Tavares – Nos Estados Unidos.
D.S. – Neste sentido, quando você coloca a questão do império colonial português me parece que os anglo-saxônicos, pela questão cultural, teriam um diferencial que fez com que o dilema tenha ocorrido há cem anos atrás nos EUA, o que pode ter resultado na condição atual que este país se encontra hoje. É isso?
Júlio Tavares – É eu creio que sim. O colonialismo inglês se utilizava também da dissimulação. Só que a ênfase da dissimulação no colonialismo anglo foi muito menor do que a ênfase ibérica, especialmente a portuguesa.

D.S. - E a França como fica nisso tudo?
Júlio Tavares – A França, por ser latina, também tem um jogo com esta dissimulação. Em todos os países latinos, a questão da mestiçagem é muito forte. Seja o colonizador espanhol, o português ou o francês. A discussão da mestiçagem só tem relevância nos países latinos. Neste sentido, Cândido Mendes coloca a questão da latinidade como fundamental para se pensar a mestiçagem no mundo contemporâneo.

Para ler na intégra esta interessante e importante entrevista clique aqui.

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Muito axé e militância pessoal e obrigado pelos comentários.