Retirado do site do Jornal O Dia.
01/11/2008
Bruno Cunha
Rio - A participação da Pontifícia Universidade Católica (PUC) no 1º censo de terreiros do estado virou motivo de polêmica entre um grupo de adeptos das religiões afro-brasileiras. Mesmo com a formação de um conselho consultivo de 14 líderes de umbanda e candomblé, eles reprovam que a coordenação da pesquisa seja feita por uma instituição privada e com influência religiosa.
O projeto prevê a construção de um banco de dados para o mapeamento de cada terreiro com tecnologia GPS. Os dados serão disponibilizados na Internet. A idéia dos adeptos, que estimam a existência de 7 mil templos no Rio, é reivindicar políticas públicas após a conclusão da pesquisa.
Para o babalorixá Luiz de Omolu, ainda há muita resistência da igreja em conviver com cultos afro-brasileiros: “Não é uma questão de intolerância, mas de coerência. Se o mesmo projeto fosse implementado pela Igreja, com certeza não permitiriam nossa colaboração”.
Segundo ele, o projeto deveria ser conduzido por universidade pública. “Respeito e reverencio todos da comissão, mas essa pesquisa é de responsabilidade do estado, a quem reivindicaremos atenção”, disse.
A yalorixá Márcia de Oyá estranha o interesse da PUC por informações dos terreiros. Já a ekédi Sara Miranda argumenta que instituições públicas trabalham com qualidade e excelência.
Reitor da PUC nega qualquer interferência
Para o reitor da PUC-Rio, padre Jesus Hortal, o trabalho é totalmente científico e acadêmico, sem influência de classificação religiosa. “Lutamos pela igualdade racial e social. Nossa universidade possui o maior número de alunos judeus, por exemplo. Visamos promover a convivência entre todos e, para isso, precisamos conhecer a realidade”, explicou.
O ministro da Secretaria Especial de Políticas da Promoção da Igualdade Racial, Edson Santos, que firmou parceria com a PUC para a pesquisa, preocupou-se com a polêmica: “Temos hoje um governo democrático no sentido de proteger os setores mais vulneráveis da sociedade. Não há interferência da Igreja Católica nesse projeto”, afirmou. Sobre a parceria com a PUC, Santos explicou: “Buscamos uma instituição que fizesse pesquisa com qualidade. Como foi a PUC, poderia ter sido com qualquer outra com a mesma qualidade”, amenizou.
O presidente da Fundação Cultural Palmares, do Ministério da Cultura, Zulu Araújo, tem recebido ligações diárias de religiosos contrários à participação da PUC. “Apesar do aval da respeitada PUC, a insegurança é plausível, pois há crescente processo de satanização de outras religiões contra cultos afro-brasileiros”, disse.
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Muito axé e militância pessoal e obrigado pelos comentários.