21/05/2009
SÃO PAULO (Reuters) - O documentário "Ôrí", lançado nos cinemas em 1989, volta às telas de São Paulo e Rio de Janeiro nesta sexta-feira com poucos traços de envelhecimento.
Fruto de um trabalho colaborativo da cineasta e socióloga Raquel Gerber e da historiadora Beatriz Nascimento, morta em 1995, o filme é um decalque das discussões sobre a cultura negra durante as décadas de 1970 e 1980, que ainda parecem surpreendentemente atuais no país.
Resultado de 10 anos de pesquisa, o documentário está longe de ser usual. Raquel Gerber realizou um trabalho impressionista, que mescla conteúdo espiritual, posicionamento político e devaneios acadêmicos. O trabalho é um mosaico narrativo bem construído, que foge de mensagens panfletárias no final da projeção.
Para montar esse quebra-cabeça, a diretora mostra depoimentos de pessoas-chave do movimento negro, em filmagens realizadas em vários Estados brasileiros (Rio de Janeiro, São Paulo, Alagoas e Minas Gerais) e na África Ocidental (Costa do Marfim e Senegal). Em especial, os acalorados debates realizados durante a Quinzena do Negro, promovida pela Universidade de São Paulo (USP), em 1977.
Apesar de não defender um ponto de vista, "Ôrí" não deixa de ser poeticamente provocador. Com textos escritos e narrados por Beatriz Nascimento, a obra concatena a ideologia dos Quilombos (desde a África Centro-Ocidental até sua recriação no Brasil) aos discursos defendidos pelos mais diferentes grupos sociais. No fim, Beatriz chega a dizer: "O movimento não é negro, mas da história."
Ôrí, um termo de origem yorubá, povo da África Ocidental, significa "cabeça", a consciência negra na sua relação com o tempo, a história e a memória.
(Por Rodrigo Zavala, do Cineweb)* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb
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Muito axé e militância pessoal e obrigado pelos comentários.