domingo, 20 de setembro de 2009

COTA É REPARAÇÃO, NÃO RACISMO, DIZ ESPECIALISTA

Retirado do site do Diário MS.

Sexta-feira, 18 de Setembro de 2009
Ademir Almeida

O IBGE informou hoje que o Brasil está mais pardo

Luiz Radai
O Diário MS Online perguntou aos leitores se “o sistema de cotas, agora também para concursos públicos, é uma forma de inclusão social, ajuda financeira, como qualquer programa social, ou racismo sendo a própria face da desigualdade”.
O surpreendente resultado de 80,56% apontou que ter um sistema de cotas é uma maneira de incentivar ou praticar o racismo, e não ameniza-lo.
Algumas pessoas foram entrevistadas e confirmaram o que a enquete alertou. Segundo Ana Paula Giovenardi, estudante, as cotas representam em muito a desigualdade, destoando do fato de sermos todos iguais perante a lei. “Não deveria haver tratamentos diferenciados”, disse.
Outra entrevistada, Idelzuite Peixoto, disse que cota é uma forma de racismo. Segundo ela o sistema de cotas deveria se basear nas condições sociais de cada cidadão e não na sua cor, raça ou etnia. “Sou a favor das cotas sociais que serviriam como uma solução de urgência”, disse.
Para Manuele Gonçalves, que é negra, dar cotas a negros e índios é tentar reparar o que eles viveram no passado. Segundo a estudante, hoje a situação é outra. “Não tem nada a ver. Pessoa branca, índio ou negro, se estudar consegue um lugar ao sol e posição social”, disse.
O Diário MS entrevistou a especialista no assunto, Maria José de Jesus Alves, professora de psicologia em educação na Uems (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul), coordenadora do curso de pedagogia na Uems e doutorada em Educação e Currículo pela PUC – SP. Maria é negra.
A professora deu respostas para todas as declarações dos entrevistados e revelou que o resultado da enquete reflete um perfil moldado há muito tempo, desde o primário, pelo sistema de ensino e pela sociedade brasileira.
“O pensamento disseminado até pelos livros de história é sempre do negro escravo, mucama, e do índio nu, caçando e pescando. Uma imagem negativa que estabelece desde já uma inferioridade intelectual e suscita termos pejorativos na sociedade”, disse.
Segundo Maria, dizer que somos iguais perante a lei foi exatamente um dos pilares da luta pelas cotas nas universidades, e agora nos concursos públicos. “Foi baseado nas cotas para deficientes e nas cotas para mulheres na política, por exemplo, que ficou estabelecido que todos os desfavorecidos socialmente precisam ser beneficiados para conquistarem seus objetivos, e isso inclui os negros e índios”, disse.
Com relação as cotas sociais, Maria ressalta que dar o benefício aos mais pobres é, indiretamente, dar cotas aos negros, pardos e índios. “Pelo menos 60% dos brasileiros são pobres. Desse percentual, em torno de 70% são negros, pardos ou índios”, analisa.
Maria disse ainda que, se alguns negros acham cota uma forma de racismo, isso nada mais é do que a disseminação ao longo do tempo de uma imagem inferior dessas pessoas. “Um negro dizer que cota é racismo, nada mais é do que negar sua propria característica”, disse, ressaltando que ser negro inclui “ser marrom, moreninho, moreno claro”. “Ou você é branco, ou você não é”, disse.
A especialista ressalta, no entanto, que as cotas não são solução ideal para o problema de desigualdade no Brasil. Segundo ela, os brancos teriam de parar de estudar por pelo menos 32 anos para que os demais tivessem as mesmas conquistas. “Conhecimento é poder, é preciso dividir esse poder”, disse. Maria afirma que educação para todos é, e sempre vai ser, a solução para o Brasil. “Por enquanto, as cotas dão a condição aos próprios desfavorecidos de lutarem futuramente por seus direitos”, finalizou.
A predominância dos pardos
O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia Estatística) informou hoje que o Brasil está mais pardo. Em 1940, mais de 60% diziam-se brancos - efeito de um período de preconceitos –, mas hoje a maioria prefere se autodeclarar pardo (48,8%).
Segundo especialistas, essa mudança pode refletir uma população negra que ainda se declara parda, com medo do preconceito, como também a miscigenação cada dia maior no país, ou ainda, o efeito de políticas afirmativas, como o sistema de cotas em universidades.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Muito axé e militância pessoal e obrigado pelos comentários.