Para baixar o filme sobre os "Panteras Negras" e ver o documentário "Todo o poder ao povo" (legendado) clique aqui.
Sobrevivente faz palestra no Rio e mostra como foi a participação feminina no movimento negro mais famoso do mundo
Kathleen Cleaver - divulgação
O Partido dos Panteras Negras para a Autodefesa, nascido em 1966, em Oakland, Califórnia, se tornou uma organização que mais incomodou o establishment norte americano na virada dos anos 1960 para os 1970, segundo Kathleen Eldridge, ex-mulher de Eldridge Cleaver, ex-ministro da Informação dos Panteras Negras.
A convite de lideranças negras do Rio de Janeiro, Kathleen veio o Brasil, deu uma palestra sobre a participação feminina na organização, no Ibase. Lá, ela causou polêmica, ao dizer que a famosa ativista Ângela Davies não fora fundadora da organização, mas, sim uma apoiadora dos Panteras Negras.
Angela Davies - divulgação
Para acabar com o grupo, o governo norte-americano utilizou os chamados "homicídios justificáveis" para a manutenção da ordem institucional, de acordo com Kathleen. Assim, naquela virada de década, o grupo teve mais 30 integrantes e lideranças assassinadas pelos policiais, informou.
"A toda hora, sofríamos ataques das forças policiais. Eles jogavam bombas em nossas comunidades, prendiam indiscriminadamente, provocavam tiroteios, criavam armadilhas jurídicas, ou seja, tudo com o objetivo de desmobilizar nossa organização. Vimos muitos companheiros sendo mortos, ao nosso lado", relatou.
Segundo Kathleen, uma coalizão de forças de segurança e inteligência foi formada para destruir os Panteras Negras. Em primeiro lugar, segundo ela, o FBI, a CIA e a polícia criaram uma estratégia unificada. Enquanto a polícia invadia e matava lideranças dos Panteras Negras sob a justificativa de ação preventiva para desmobilizar os desordeiros, a FBI e CIA eram mais sofisticados.
Panteras Negras nas ruas - divulgação
Estes dois organismos de inteligência infiltraram negros vinculados ao establishment no movimento dos Panteras Negras para dividir o grupo. Assim, sem que soubessem, grandes decisões de lideranças negras, tomadas a portas fechadas, eram do conhecimento do FBI e CIA, pois, imediatamente eram retransmitidas pelos seus espiões dentro do movimento.
Desse modo, segundo Kathleen, o FBI, por exemplo, criou artificialmente uma das maiores cizânias do movimento negro norte-americano: o ministro da Informação, Eldridge Cleaver, e o fundador do partido, Huey Newton, começaram a não mais se falar, pois, havia uma sombra entre eles: ambos achavam que um queria destruir o outro para assumirem a liderança a liderança dos Panteras Negras.
Embora se gostassem muito, se respeitassem, os dois líderes negros ficaram um com o pé atrás em relação ao outro. Quer dizer: passaram a se estranhar. Em outras palavras: temiam se defrontarem com armadilhas criadas pelos os aliados dos dois lados. Assim, não partiam para uma conversa aberta e franca entre eles.
Toda esta cizânia, na visão da ex-mulher de Eldridge Cleaver, foi criada pelas forças de inteligência, como uma das várias táticas para acabar com os Panteras Negras.
"O FBI operou no movimento para tornarem amigos em inimigos", classificou ela, a certa altura de sua palestra.
Segundo ela, embora a imagem dos Panteras Negras seja associada aos homens, a participação feminina no movimento foi intensa. Em primeiro lugar, segundo ela, as forças de segurança focavam mais em atingir os homens, partindo da premissa segundo a qual este teria mais poder unir e organizar forças.
No entanto, nos bastidores, segundo ela, as mulheres se envolviam, cuidavam dos jovens e crianças, passavam as informações das ações comunitárias para as frentes de luta e eram parte importante nas manifestações de rua contra o racismo e a violência policial.
"Em 1969, Bob Seale, presidente dos Panteras Negras, fez uma pesquisa interna nos quadros da organização. Ao analisar o resultado da pesquisa, ele percebeu que cerca de dois terços dela eram formadas por mulheres. Essa era a realidade do partido três anos após ser criado", revelou Kathleen.
Panateras usam armas para proteção - divulgação
Segundo ela, o establishment, comumente, vê o homem como mais potencial nas lutas políticas. Então, essa imagem masculina é muito explorada pela mídia, que sempre foca na ameaça masculina com potencial para desagregar e dividir. Por isso, em geral, a mídia fazia questão de ampliar a imagem dos Panteras Negras usando rifles no parlamento. Isso, segundo ela, assustava a opinião pública. Mas uma lei californiana da época autorizava os cidadãos a portarem armas se se sentissem ameaçados em sua integridade física.
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