sexta-feira, 2 de outubro de 2009

PESQUISA REVELA OTIMISMO NAS RELAÇÕES RACIAIS NA ERA OBAMA

Retirado do site 24horasNews.

03/05/2009 - 00h25
The New York Times

Apesar de o movimento pelos direitos civis ter dado a igualdade legal para Samuel Sallis há muito tempo, ele ficou esperando grande parte de sua vida pela cortesia e o respeito sutil que achava que viriam junto com isso, disse ele. Ser um negro da classe trabalhadora no centro da cidade significava ser praticamente ignorado, viver uma vida invisível e sem reconhecimento no vasto mundo branco. Então Sallis, 69, percebeu uma mudança.

"Trabalho no centro da cidade há 30 anos, então eu conheço bem a região", disse Sallis enquanto esperava pelo ônibus. "Desde que o presidente Obama começou sua campanha, em quase todo lugar que eu vou é assim: Olá! Tudo bem com o senhor? E estou falando de estranhos, me chamando de senhor".

E acrescentou: "Isso faz com que eu me sinta diferente, e penso: ei, talvez sejamos iguais. Mas eu não mudei em nada. Parece que são os outros que começaram a perceber essas coisas ao meu redor."
Em dezenas de entrevistas realizadas em sete Estados norte-americanos durante os últimos dias, homens e mulheres negros como Sallis declararam que estão se sentindo mais otimistas quanto às relações raciais nos Estados Unidos do que há um ano, quando Obama se afirmou como candidato sério para a Casa Branca depois de uma série de vitórias nas primárias e no caucus. Muitos brancos também disseram estar se sentindo sentir melhor, expressando um senso revigorado de abertura em relação às pessoas de outras raças.

Ainda assim, ninguém afirma que o preconceito racial desapareceu.
Num relatório recente enviado para as agências de segurança, o Departamento de Segurança Interna alertou que os extremistas de direita poderiam usar a eleição de Obama como uma ferramenta de recrutamento. E o Southern Poverty Law Center, que monitora esses grupos, relatou a descoberta de 926 grupos de aversão ativos nos Estados Unidos em 2008, 50% a mais do que em 2000.
Ainda assim, Sallis diz: "parece que agora há uma possibilidade que não existia antes".
Em Tampa, Flórida, Milton Patrick, 33, negro, foi a um jogo de beisebol nesta primavera convidado pela primeira vez por seus colegas brancos.

No escritório multirracial onde Karen Jackson trabalha, em Los Angeles, a política e a religião costumavam ser assuntos delicados.
Mas Jackson, que é negra, disse que agora as pessoas agora a incluem em discussões amigáveis e significativas.

E no Brooklyn, Shel Harris, também negro, diz que descartou sua atitude "cética, e em guarda" em relação aos brancos depois de trabalhar lado a lado com tantos na campanha de Obama. "Sempre que eles diziam alguma coisa, eu ficava procurando os motivos velados", disse Harris, 62, trabalhador aposentado de uma companhia telefônica. "Agora, acho que eu levo as declarações dos brancos mais literalmente."

As entrevistas refletem as descobertas da última pesquisa New York Times/CBS News, na qual dois terços dos americanos disseram que as relações inter-raciais estão em geral boas. A porcentagem de negros a declarar isso dobrou desde julho.

Em pouco mais de cem dias, a presidência de Obama parece ter alterado em muito a percepção do público americano quanto às relações raciais.
E talvez, em alguns casos, tenha alterado até mesmo a realidade.
"Sinto-me muito mais confortável para puxar conversa com pessoas de outras raças na rua do que antigamente", disse Mitch Hansch, 29, que é branco e trabalha como garçom na cidade de Nova York. "Desde que Obama foi eleito, as tensões raciais parecem um pouco menores. Acho isso fantástico."

Num subúrbio ao nordeste de Los Angeles, M.J.J. Schmidt, 62, executivo do setor imobiliário, que é branco, disse que também sentiu que alguma coisa mudou.
"Há vários negros na academia que frequento", disse Schmidt. "Nós não nos falávamos com frequência. Eles tendem a ter o seu próprio círculo de amigos. Mas agora tem havido mais comunicação. Agora existe um assunto para abrir o diálogo. Depois da eleição, eu comecei a cumprimentá-los. Eu disse: "Ei, o que você acha do nosso novo presidente, Obama?""
O poder das imagens positivas de Obama e sua família sem dúvida influenciaram ambas as raças.

"Do meu ponto de vista, o que contribui para os números dos afro-americanos foi o extremo orgulho que sentimos quando vemos o presidente Obama junto com os líderes mundiais", diz Clifford Whitby, 46, um empreendedor imobiliário de Macon, Geórgia, referindo-se aos números da pesquisa. "Isso mexe muito com a psique do povo afro-americano. Se esses números não fossem tão altos, eu acharia que as pesquisas estavam erradas."

Alguns brancos apontaram para uma dinâmica um pouco diferente, mas que também envolvem as imagens da mídia.
"Não votei em Obama", diz Chris Miller, 46, construtor de barcos em Johnstown, Nova York, que é branco. "Mas só o que eu vi durante a campanha - havia muita gente, brancos, negros, amarelos, verdes, cinzas, todas as raças e nacionalidades estavam juntas apoiando este homem. Aquilo me mostrou que as coisas estavam mudando, as coisas estão melhores. Eu nunca vi nada tão abrangente."

Alan Ingram, 29, designer de websites em Milwaukee, concorda. "As pessoas tiveram mais do que uma oportunidade para se juntar com essa eleição e todos os seus acontecimentos", diz Ingram, que é negro. "De fato vimos pessoas de todos os tipos de descendência encontrando pontos em comum."

Num café próximo ao centro na sexta-feira, Ingram puxou conversa com Nicole Nelson, uma estudante de direito branca, que concordou com sua opinião.

"Fui a um comício de Obama, e vi tudo isso", diz Nelson. "Eu votei nele apesar de ter sido criada com valores conservadores, de cidade pequena, num lugar em que não havia diversidade. Acho que foi uma questão de abertura que mudou a forma com que eu vejo a vida."
Para alguns negros, as mudanças sutis fizeram a diferença.

Kevin Chaison, operadora de telemarketing de 39 anos em St. Louis, que é negra, disse que costumava se sentir invisível. "Agora tenho uma sensação maior de pertencimento", disse Chaison. "Recebo mais cumprimentos: "Ei, como vai você?", do que há um ano."

Chester J. Fontenot Jr., 59, professor de inglês e diretor de estudos africanos na Mercer University em Macon, disse que parte do isolamento social que ele sentia há muito tempo como um dos poucos professores negros do campus foi atenuado.
"Acho que o que acontece com vários brancos que chegaram e começaram a falar comigo é que eles se sentem confortável com ele", disse Fontenot, referindo-se a Obama, "e isso faz com que seja normal chegar e conversar comigo. Eles sentem que têm algo em comum comigo agora, temos algo sobre o que conversar."

Patrick, auditor de Tampa que fez amizade com alguns de seus colegas brancos recentemente, enfatizou como até o menor dos gestos de boa vontade é importante para ele.
Ainda assim, ele não tem muitas ilusões.
"Não estou tentando dourar a pílula", disse Patrick. "As coisas ainda poderiam ser melhores. Mas já melhoraram muito em relação ao que eram, é o que eu acho."

"Agora recebemos acenos de cabeça ou sorrisos que simplesmente não recebíamos há um ano ou dois", acrescentou. "Para mim, era algo assim: "Não vou nem mesmo reconhecer essa pessoa negra". E eles continuavam com o seu jeito alegre. Mas agora, eu sou reconhecido."

"Não estou dizendo que o campo do jogo está nivelado, mas ter elegido um presidente negro foi muito importante."

Tradução: Eloise De Vylder
Contribuíram com a reportagem: Rebecca Cathcart em Los Angeles, Shaila Dewan de Atlanta, Malcolm Gay de St. Louis, Christopher Maag de Nova York e Malia Wollan de Oakland, Califórnia.

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Muito axé e militância pessoal e obrigado pelos comentários.