quinta-feira, 12 de novembro de 2009

'LATINOS SÃO VISTOS COMO AMEAÇA NOS EUA'

Retirado do site do PNUD.

Reportagens
São Paulo, 04/11/2009
País aumentou repressão quando latinos se tornaram maioria dos estrangeiros; imigrantes já rechaçam cultura americana, diz estudo-->
FÁBIO BRANDT
da PrimaPagina
Os Estados Unidos são caracterizados por crescente sentimento anti-imigrante, reforço da repressão contra imigração e enquadramento dos latinos como ameaçadores e indesejáveis. Esta é a avaliação do sociólogo Douglas Massey e da pesquisadora Magaly Sánchez, da Universidade de Princeton, em Nova Jersey. Os autores avaliaram a migração no país em um estudo que serviu de base para o Relatório de Desenvolvimento Humano de 2009.
O artigo, intitulado
“Políticas restritivas de imigração e identidade do imigrante latino nos Estados Unidos”, afirma que para cessar o aumento na segregação entre americanos e imigrantes, é preciso que os EUA adotem três medidas: legalizar, anistiar e conferir direitos trabalhistas integrais aos ilegais; permitir a entrada legal de mais latino-americanos; e reforçar leis anti-discriminação para proteger a todos, “independentemente de raça, etnia, naturalidade e status de legalidade”.
Tendências históricas
Os autores dizem que os EUA começaram a fechar suas fronteiras e a oferecer menos oportunidades econômicas aos imigrantes ao passo que os latino-americanos se tornaram a maioria dos imigrados durante o século 20. Nesse período, acrescentam, as restrições à imigração favoreceram a segregação entre americanos e imigrados.
Por falta de recepção favorável e de oferta de emprego, argumenta o texto, os estrangeiros não obtiveram nos EUA a melhoria de renda e integração social que desejavam ao migrar e passaram a rechaçar a identidade e a cultura americanas – formando um grupo separado, oposto aos nativos. Massey e Sánchez concluem que os reforços contínuos na repressão à imigração agravaram a segregação, pois em vez de inibirem o aumento progressivo da população latino-americana e caribenha nos EUA, aumentaram o número de pessoas vivendo sem documentos.
Se entre 1900 e 1909, os europeus eram 92,7% do total de imigrantes que entraram no país, entre 1950 e 2000, os mexicanos se tornaram 54% do total, os caribenhos 20%, os originários da América Central 12% e os sul-americanos 11%, elenca o artigo. Esse aumento contrasta com o recrudescimento das restrições, avalia o texto, citando medidas como o Ato de Reforma da Imigração e do Controle, de 1986, “que criminalizou a contratação de imigrantes sem documentos”.
Também são lembrados o Ato de Imigração, de 1990, que reduziu o número de vistos para parentes de imigrantes já residentes no país e o Ato Patriota, de 2001, que conferiu ao presidente dos EUA o poder de deportar, mesmo os estrangeiros legalizados, sem apresentação de evidências.
Além disso, países como o México sofreram com a diminuição das quotas de ingresso: em 1959, os EUA ofereciam aos mexicanos 450 mil vistos de trabalho por ano e vistos de residência ilimitados. “Duas décadas mais tarde não havia vistos de trabalho e apenas 20 mil vistos de residência disponíveis”. Como conseqüência, dos 11,1 milhões de pessoas sem documento que viviam nos EUA em 2005, “56% eram do México, 22% de outros países da América Latina e apenas 6% da Europa e Canadá”.
Os autores ainda explicitam que, entre 1987 e 2007, nas fronteiras do país, o número de militares aumentou de 4 mil para 14 mil e foram presas 25,2 milhões de pessoas (1,9 milhões deportadas).
A demonização dos latinos
O texto também apresenta dados de uma pesquisa realizada pelos autores com 159 imigrantes na região de Nova Iorque, Nova Jersey e Philadelphia, entre janeiro de 2001 e janeiro de 2004 (período de reforço do discurso anti-imigração por causa do atentado de 11 de setembro). “Mais de 80% percebeu uma identidade latina comum e mais de 60% explicitou rejeição por uma identidade americana”, divulga o texto, salientando que os entrevistados provinham de 15 países da América Latina, possuíam cultura e etnias distintas e ancestrais de origens distintas.
Dois momentos vividos pelos imigrantes originam essa identidade única, afirma o texto: um em que os imigrantes “conhecem as realidades da vida no Mercado de trabalho secundário” e outro em que eles “descobrem viver essas experiências junto com outros imigrantes”.
Também contribui para a formação do grupo latino a criação de estereótipos negativos dos imigrantes latino-americanos e caribenhos, diz artigo. “Economistas conservadores como George Borjas, alertaram os americanos sobre o declínio da qualidade dos imigrantes. O cientista político de Harvard, Samuel P. Huntington, alegou que a persistência do fluxo de imigrantes hispânicos ameaça dividir os Estados Unidos em dois povos, duas culturas e duas línguas porque, diferentemente dos grupos anteriores, mexicanos e outros latinos não entraram no centro da cultura americana”, exemplifica.
A avaliação de Massey e Sánchez é que os imigrantes chegam aos EUA vendo-os como “uma terra de oportunidades” e, com o tempo, passam a vê-los como lugar de “desigualdade e racismo”. “Enquanto a identidade latina é vista como calorosa, a identidade Americana é vista como fria, competitiva e calculista", escrevem, completando que "a sociedade americana pode ser eficiente, bem organizada, mas para os migrantes esses benefícios vêm custam o sacrifício de relações pessoais e muitas vezes se opõem a isso”.

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Muito axé e militância pessoal e obrigado pelos comentários.