Retirado do site HIU Unisinos.
2/12/2009
Você é branco, preto ou pardo? Um estudo realizado no Rio Grande do Sul apontou que a resposta do entrevistado muda dependendo de quem faz a pergunta. A tendência é que ele declare ter uma pele mais clara que a do entrevistador.
A reportagem é de Ricardo Westin e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 02-12-2009.
A pesquisa foi feita na cidade de Pelotas (RS), onde a população - utilizando os termos adotados pelo IBGE - é 79% branca, 14% preta e 7% parda. O instituto não usa o termo negro. Ouviram-se 3.170 pessoas de todos níveis sociais, em suas casas, escolhidas aleatoriamente.
A proporção das declarações mudou quando o entrevistador era preto. Menos pessoas se consideraram pretas (4%) e mais, pardas (18%).
Percebeu-se o mesmo embranquecimento quando o entrevistador era pardo. Menos pessoas se declararam pardas (4%) e mais se disseram brancas (85%).
No caso do entrevistador branco, a proporção ficou perto das médias gerais de Pelotas.
A pesquisa não investigou o motivo que levou a esse autoembranquecimento diante de entrevistadores pretos e pardos. Mas existem hipóteses.
"Estar no extremo claro da cor é visto como algo socialmente vantajoso", diz João Luiz Bastos, doutorando da programa de epidemiologia da Universidade Federal de Pelotas que liderou o estudo.
Carlos Moura, assessor da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, ligada à Presidência da República, concorda. Ele exemplifica com pesquisas que mostram que, quando um emprego é disputado por pessoas de nível profissional parecido e cor de pele diferente, é quase certo que o preto perderá a vaga.
"Desde os tempos idos, a comunidade negra foi vista como incompetente, inadequada, sem categoria e não bonita. Então, para crescer na sociedade, a tendência natural é que o indivíduo adote uma posição de negação e tente se desvencilhar desse aprisionamento [de ser visto como negro]", explica.
Embranquecimento
Outras pesquisas já haviam mostrado que as pessoas se embranquecem à medida que sobem na escala social e cultural.
A socióloga Paula Barreto, do Centro de Estudos Afro-Orientais da Universidade Federal da Bahia, explica que pesquisas desse tipo comprovam que "a cor do brasileiro depende do contexto".
"Uma pessoa com pele escura, educação formal e renda elevada tende a ser definida pelos outros como mulata ou morena. E ela própria tende a se definir assim. Por outro lado, uma pessoa com a pele igualmente escura, pobre e sem escolarização é vista como preta."
O contexto regional também influencia. Como a proporção de brancos em Salvador, por exemplo, é menor do que em Porto Alegre, uma pessoa tida como parda na capital baiana provavelmente será vista como preta na capital gaúcha.
Dois outros dados da pesquisa de Pelotas chamam a atenção. Primeiro, as entrevistas foram feitas sempre por mulheres. Depois, o embranquecimento foi maior nos homens.
Por isso, os pesquisadores especulam que o fator "gênero" também pode ter tido influência. Dizendo-se mais claros que as entrevistadoras, os homens reforçariam sua superioridade em relação a elas.
O pesquisador do IBGE José Luis Petruccelli concorda que o entrevistador, ainda que sem querer, influencia as respostas do entrevistado. Isso quer dizer que as pesquisas nacionais como o Censo não correspondem à realidade? Petruccelli diz que não. "As distorções se anulam nos grandes números."
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Muito axé e militância pessoal e obrigado pelos comentários.