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terça-feira, 2 de março de 2010
A revista Época desta semana traz como destaque uma reportagem sobre a lavagem de sêmen, método que permitiu soropositivos engravidarem suas parceiras sem infectá-las. Leia a seguir o texto na íntegra:
A lavagem de sêmen permite que soropositivos engravidem as parceiras sem infectá-las - ou ao bebê
Revista Época
Da Redação
A moça escondida pela sombra na foto ao lado tem um segredo. Seu bebê de 9 meses (saudável, lindo e candidato natural ao título de Mr. Simpatia) foi gerado de um modo especial, por uma razão especial. Em 2005, essa veterinária de 32 anos se casou vestida de noiva, com um terço enrolado nos dedos, numa das igrejas mais tradicionais de São Paulo. Isso é o que a mãe, o pai e o irmão dela sabem. Eles não sabem, porém, que o homem eleito por ela para ser o pai de seus filhos tem o vírus HIV. Nem imaginam, portanto, que o bebê que engatinha pelo chão da sala e se aventura pelos degraus da escada simboliza um novo momento da história da aids.
Se, até os anos 90, os infectados viviam a existência possível diante da iminência da morte, nos últimos tempos voltaram a planejar. Para eles, nenhum plano pode ser mais subversivo do que gerar um filho.
Felizmente, em muitas ocasiões a medicina está a serviço da subversão. A prova é a história desse administrador de empresas de 42 anos que descobriu ter o HIV em 1994 e, no ano passado, conquistou o que parecia impossível. “Nunca imaginei que algum dia pudesse ter um filho. Mas passou um ano, depois dois, cinco, 15, e eu não morri”, diz. “Achei que já dava para acreditar que levo uma vida normal.”
Vencida a barreira emocional, ele tinha diante de si uma questão prática: como engravidar a mulher sem correr o risco de infectá-la?
Ela descobriu um método de reprodução assistida capaz de solucionar o problema. Por meio de um processo chamado de dupla lavagem de sêmen, é possível gerar um bebê saudável sem que a mãe seja infectada. O tratamento só pode ser feito se o homem estiver tomando o coquetel contra a aids rigorosamente, tiver um bom sistema imune e estiver com carga viral indetectável no sangue. Era exatamente o caso do marido dela.
Com a lavagem de sêmen, o risco de infecção da mulher é praticamente zero. Mas ele existe.
A técnica funciona assim: o esperma do homem é colocado numa centrífuga. Os espermatozoides são separados do sêmen. Um único espermatozoide bem formado é selecionado e injetado dentro de cada um dos óvulos extraídos da mulher. Os embriões resultantes são colocados no útero. Como o HIV fica concentrado principalmente no sêmen, e não no espermatozoide, os médicos consideram o método bastante seguro.
“Não existe na literatura mundial um único caso de mulher que tenha sido infectada dessa forma ou de um bebê que tenha nascido com o vírus depois de ter sido gerado por esse tratamento”, afirma Renato Fraietta, coordenador do Setor de Reprodução Humana do Hospital São Paulo, vinculado à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “O risco é praticamente zero.” Ainda assim, ele existe.
Com a união de casais sorodiscordantes – situação em que apenas um dos parceiros tem o vírus -, é recorrente o desejo de vencer a última barreira imposta pela aids: a procriação.
O tratamento é mais simples quando a mulher tem o vírus e o homem não. Basta inseminá-la com o esperma e acompanhar a gravidez com cuidado para evitar a transmissão do vírus ao feto, chamada “transmissão vertical”.
O mais indicado é que o bebê nasça por cesariana, receba a droga AZT nos primeiros três meses de vida e não seja amamentado pela mãe. Tudo fica mais complicado quando só o homem tem o vírus. Mesmo quando é perfeitamente fértil, a mulher precisa se submeter a todos os inconvenientes da reprodução assistida. Isso significa tomar hormônios para superestimular a produção de óvulos e anestesia para coletá-los. Além de encarar vários exames e, quando necessário, fazer repouso absoluto.
Mas não é apenas por isso que mais casais não procuram tratamento. “Os pacientes desejam ter filhos, mas não sabem que isso é possível”, diz a psicóloga Andrea da Silveira Rossi. Em sua tese de doutorado, defendida na semana passada na Unicamp, ela pesquisou as dificuldades de acesso dos portadores de HIV aos tratamentos de reprodução assistida.
Entrevistou cerca de 140 gestores de programas de saúde e ouviu 47 portadores do vírus que tinham a intenção de ter filhos. Concluiu que falta informação. “Os gestores de saúde também demonstram desconhecimento”, diz.
Revista Época – 26.02.2010
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Muito axé e militância pessoal e obrigado pelos comentários.