Das agências internacionais
Em Ventersdorp (África do Sul)
Eugene Terre'Blanche, líder radical branco, foi assassinado enquanto dormia; sua morte incita vingança de seguidores, que alertam sobre Copa
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As tensões raciais na África do Sul voltaram à tona no último fim de semana com a morte do líder de extrema direita Eugene Terre’Blanche, principal defensor do apartheid no país. Desde a queda do regime racista, em 1994, ele comandava o AWB, movimento de resistência branca. Após o seu assassinato por dois empregados negros, seus seguidores incitaram um novo conflito étnico, e lançaram um alerta para os estrangeiros que pretendem ir ao país durante a Copa do Mundo.
“Vamos enviar um aviso a estas nações: ‘Vocês estão mandando seus times de futebol para uma terra de assassinos’. Não façam isso se vocês não tiverem proteção suficiente para eles”, ameaçou o extremista Andre Visagie, que considerou o assassinato de Terre’Blanche uma “declaração de guerra” dos negros contra os brancos na África do Sul.
Visagie alega que o líder juvenil no congresso nacional, Julius Malema, inflamou os assassinos com seus discursos e por ter cantado uma canção de resistência negra no apartheid, que inclui a frase “mate o ‘boer’” – palavra que remete à ascendência holandesa dos fazendeiros brancos. Por isso, os integrantes mais radicais do AWB estão dispostos a desencadear uma onda de vingança.
Segundo a polícia, a morte de Terre’Blanche foi motivada por um impasse salarial com dois empregados negros de sua fazenda em Ventersdorp, que o mataram enquanto ele dormia. Durante o seu velório nesta segunda-feira, integrantes mais moderados do AWB negaram que haverá onda de violência motivada por vingança. "O AWB não vai se envolver em nenhuma forma de retaliação violenta para vingar a morte do senhor Terre'Blanche", declarou o general Pieter Steyn.
O presidente da África do Sul, Jacob Zuma, está fazendo apelos para que se mantenha a calma após o “terrível incidente”. “Peço para que os sul-africanos não permitam que esses provocadores tomem vantagem da situação incitando conflitos raciais”, declarou Zuma em comunicado oficial.
O ministro da segurança admitiu que o assassinato de Terre’Blanche prejudicou a imagem do país e lançou uma preocupação a mais para a Copa do Mundo: “É a natureza desse crime que nos deixa preocupados. Mas eu posso dizer que o nosso planejamento na luta contra o crime já está dando resultados”, ponderou.
LUTO NA RESISTÊNCIA BRANCA
Simpatizante do líder sul-africano de extrema-direita Terre'Blanche, assassinado enquanto dormia, presta homenagem na fazenda onde aconteceu o crime; em sua camisa, a inscrição "100% Boer" é alusão a descendentes de fazendeiros holandeses
Quem morreu
Eugene Terre’Blanche tinha 69 anos e era o líder do AWB (Afrikaner Weerstandsbeweging), movimento de resistência dos africâneres, os brancos ativistas do país. Ele iniciou sua carreira política em 1973, defendendo os interesses dos “boers”, como são conhecidos os descendentes dos colonos holandeses.
Seu partido de extrema-direita foi fundado em 1979, e teve profunda influência durante o regime de segregação racial no país. Em 1990, quando o presidente De Klerk iniciou o processo de democratização, ele promoveu uma onda de terrorismo que beirou a guerra civil.
A partir da vitória de Nelson Mandela em 1994, Terre’Blanche perdeu a força, mas não a convicção: dois anos depois, tentou matar um segurança negro durante um assalto, o que lhe fez ficar preso durante três anos. Seus seguidores continuaram ativos através da resistência promovida pelo AWB, que foi reinaugurado em 2008.
O movimento usa um símbolo parecido com o da suástica nazista e defende a supremacia branca. Porém, sua influência só se faz valer nas zonas rurais, onde ainda existem tensões entre fazendeiros e empregados negros.
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Muito axé e militância pessoal e obrigado pelos comentários.