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EDITORIAL
Cê vê tudo ao contrário
Edson Lopes Cardosoedsoncardoso@ irohin.org. br

O argumento não é original, nem na canção nem no manifesto, e apenas atualiza velhos estigmas que nos acompanham desde tempos coloniais: raça inferior, intelectual e moralmente, criminosos em potencial e avessos ao progresso e à civilização.
A um só tempo, os adversários das políticas públicas voltadas para a população negra declaram seu “horror” às desigualdades e nos acusam de cometer um “equívoco elementar”: a importação arbitrária de traços muito particulares dos EUA. E, por esta via, da importação inadequada de singularidades repulsivas, estaríamos insuflando o ódio racial numa sociedade, como disse o ministro Gil em sua posse em 2003, “de caráter essencialmente mestiço e sincrético”.
Na letra da canção “O Herói”, a primeira opção do favelado, o caminho inicial que ele descortina é “fomentar aqui o ódio racial/a separação nítida das raças”. Em sua odi(o)sséia, nosso herói mulato quer ser tudo o que ele não é: “quero ser negro 100%, americano,/sul- africano, tudo menos o santo/que a brisa do brasil briga e balança” (É preciso fingir aqui que não sabemos ser a favela uma demarcação com rígido recorte racial, certo?).
Mas o resultado da autoconstrução odiosa é, finalmente, repudiado pelo nosso herói, que não se reconhece nessa indumentária postiça, que lhe subtraiu a boa índole sincrética, e, numa daquelas metamorfoses dignas de Macunaíma, decide-se em grande êxtase por assumir o peso da tradição ideológica. Transformado quase em camelo nietzschiano, sai gemendo sua dor, queixando-se a Deus: “eu sou o homem cordial/que vim para instaurar a democracia racial/eu sou o herói/só deus e eu sabemos como dói”.

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Muito axé e militância pessoal e obrigado pelos comentários.