sábado, 26 de julho de 2008

ZIMBÁBUE: O OUTRO LADO DA HISTÓRIA

Retirado do site Juventude e Revolução. Um artigo que merce uma leitura atenta já que traz diversas informações que a grande mídia não coloca.

Observamos nas últimas semanas todos os grandes veículos de comunicação vincular as preocupações das mais diversas origens, de diversos Estados e organismos internacionais, com a legitimidade das eleições no Zimbábue e em conseqüência com a situação daquele país e de seu povo. As grandes potências, em particular, EUA e Inglaterra, se apressaram em condenar a eleição de Robert Mugabe e seu partido Zanu-PF (União Nacional Africana do Zimbábue – Frente Patriótica) em disputa com Morgan Tsvangirai, do MDC (Movimento pela Mudança Democrática), e solicitaram prontamente a ONU a "permissão" uma intervenção naquele território.
Mas não há como não indagarmos em outro sentido: Qual a preocupação de fato que aqueles que estão a frente da Casa Branca têm com o povo africano e com a democracia? O que esta acontecendo realmente naquele país para provocar tamanha reação e preocupação? Não são esses, os homens da Casa Branca e do Pentágono, os mesmos que legitimam a eleição fraudulenta de Calderón no México? Não são esses verdadeiros os culpados pela tragédia que atinge em particular a população negra no Estado de Lusiania, após o furacão Katrina? Não são esses que mantêm desde 1980 na prisão Mumia Abu Jamal, militante negro, que teve durante seu processo 53 direitos constitucionais violados?
Antes de mais nada vale precisar um pouco a situação do Zimbábue. Com cerca de 11 milhões de habitantes, 73% da população do Zimbábue se concentra nas áreas rurais. Antes da reforma agrária realizada nos últimos anos, 4.500 proprietários brancos possuíam aproximadamente 7,5 milhões de hectares, 80% da melhor terra cultivável; sendo que um milhão de camponeses negros se fixaram em 16 milhões de hectares, nas terras mais secas e de pior qualidade no país. O país possui riqueza mineral grande em cromo, níquel, lítio, ouro, cobre, amianto e ferro. Riquezas são desejadas pelas grandes companhias dos EUA e de outros grandes países.
É a partir da mudança de política em relação as terras e as suas riquezas, que Mugabe aplica no país, que começam seus "problemas". Em um artigo de Lybon Mabasa, chamado "A batalha das eleições no Zimbábue", publicado no Brasil em Julho de 2005, o dirigente sindical sul-africano chama atenção para algumas questões que hoje se mostram espantosamente atuais. Abaixo reproduziremos alguns trechos, lembrando mais uma vez que o artigo foi redigido três anos atrás.
"Qual foi o grande pecado de Robert Mugabe? (...) É irônico pensar que paises nos quais a democracia está colocada em questão e nos quais as condutas e práticas dos processos eleitorais são as mais contestáveis se preocupam com as eleições no Zimbábue. (...) O que está em questão não tem nada a ver com número de anos nos quais Robert Mugabe ficou no poder. (...) Não havia problemas com Mugabe enquanto ele respeitou o que o imperialismo havia prescrito. A questão da pobreza e da fome dos negros nunca interessou nem inquietou os países ocidentais. (...) "O pecado" principal de Mugabe foi o de ficar no mesmo campo de seu povo, dos antigos combatentes pela independência, dos camponeses negros sem terra que tomaram as terras dos fazendeiros brancos. (...) Mesmo se as eleições transcorreram em calma, sem medidas de intimidação, os EUA e Grã-Bretanha continuam determinados a derrubar Mugabe a qualquer preço e sob não importa qual pretexto. Eles não querem reconhecer que sua única inquietude vem do fato de que Mugabe apoiou os que ocuparam as terras. Mugabe foi ainda mais longe, implantando uma legislação que dá suporte a uma reforma agrária progressiva e que reconhece que a liberdade está incompleta se o povo do Zimbábue não possui sua própria terra. (...)"
Notamos claramente aqui que depois das eleições de 2005, as eleições de 2008 transcorreram sob o mesmo pano de fundo. Mubasa nos coloca porém que anteriormente a situação já era uma "preocupação" estanunidense: "em 2001, a administração Bush adotou uma lei para sabotar a economia zimbabuana. É a lei sobre a "democracia e a recuperação da economia do Zimbábue". (...) A lei era tão draconiana e racista, que a deputada Cynthia McKinney (hoje candidata a presidente dos EUA, pela coalizão Poder Para o Povo. Nota do Editor), representante no Congresso dos EUA por Atlanta, teve de interpelar o plenário: "Senhor presidente, se examinarmos bem esta legislação ("democracia e recuperação econômica para o Zimbábue"), ela não é nada além de uma declaração oficial da cumplicidade dos Estados Unidos com um programa de manutenção dos privilégios brancos. Nós chamamos isso de uma "lei de motivação", mas isso não muda seu caráter essencial de sanção. É uma lei racista contrária aos interesses das massas do Zimbábue." (...) O projeto foi aprovado e assinado pelo presidente Bush em 21 de dezembro de 2001. A administração estadunidense declarou que o Governo de Mugabe era "um posto avançado de tirania" pois é desta maneira que ela pode se justificar para engajar qualquer ação de sua escolha contra o governo no Mugabe. Sua exigência mínima é uma "mudança de regime", com as mesmas aspirações sendo avançadas pelos fantoches do MDC. Eles deliberadamente colocaram o Zimbábue e o governo de Mugabe em uma posição de vulnerabilidade diante de todas as formas de desestabilizaçã o. É a situação clássica: quem quer matar seu cachorro, o acusa de raiva. (...) O imperialismo está trabalhando no Zimbábue, utilizando sua arma favorita de "destruição maciça", particularmente da África, que é o "caráter étnico e tribal". (...) o governo estadunidense se deu conta da importância do Zimbábue. O país exemplifica as lutas das antigas colônias e dos países em desenvolvimento. É o caso clássico de um país cuja sorte foi ligada à do imperialismo, mais particularmente através da tirania da dívida. (...) Todos os que, no mundo inteiro, combatem pela defesa da soberania nacional, da democracia e da independência do movimento operário não terão outra escolha senão dar um apoio incondicional face aos ataques que o imperialismo continua a fazer incessantemente contra seus países".
Temos acordo com tal discussão colocada por Mubasa, assim como temos acordo com os militantes do SOPA, Partido Socialista da Azânia (Azânia é como o povo negro da áfrica do Sul reconhece e denomina seu país) quando em uma declaração datada de 02 de julho de 2008, eles colocam: "Ontem era a Somália que foi completamente desmantelada e destruída, o Iraque literalmente em vias de destruição, o Sudão é vitima de uma crise mortal e será amanha a incursão no Zimbábue se a intervenção militar se tornar realidade. Lembrem-se: amanhã, será a incursão na África do Sul. Contra uma intervenção militar dirigida pelo imperialismo estadunidense e britânico e pela OTAN, nós estamos ao lado do povo do Zimbábue e Mugabe. Nós fazemos um chamado a todos os trabalhadores e suas organizações, a nosso povo, a juventude e todas as organizações para nos mobilizarmos em uma campanha contra as ameaças de intervenção no Zimbábue e estamos prontos para trabalhar com quem se pronuncie pela defesa da terra, do povo e da soberania do Zimbábue, pela paz e pela estabilidade. Nós chamamos todos os trabalhadores e suas organizações, na África do Sul".
Para a Juventude Revolução - IRJ, o povo de Zimbábue é dono de suas terras e riquezas e deve ele decidir sobre elas! Para a Juventude Revolução – IRJ a soberania e unidade do Zimbábue é uma luta de todos! Qualquer intervenção militar e estrangeira não abre qualquer saída para a população nem para a juventude do Zimbábue, ao contrário, porque mais uma vez, a juventude, os trabalhadores, os camponeses, a maioria negra, todas essas camadas da população pagarão a conta de uma política que nada tem a ver com seus interesses!
E mesmo se não concordamos com toda a política de Mugabe, nós devemos apóia-lo totalmente contra a ofensiva imperialista. A defesa da nação do Zimbábue e sua unidade, a defesa do governo contra o imperialismo está no centro da luta pela frente única anti-imperialista, imperialismo esse, que aplica uma política de genocídio do povo negro em todo o mundo.

Não a qualquer intervenção estrangeira e militar no Zimbábue
Pela Soberania Nacional do Zimbábue


Joelson Souza e Eduardo (Preá) Freitas
Militantes da Juventude Revolução - IRJ

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Muito axé e militância pessoal e obrigado pelos comentários.