Retirado do site do jornal Hoje notícias.
02/08/2008
Liana Aguiar
Diego Alves Pereira, 21, saiu de Miracema (TO) para tentar o sonho de fazer uma faculdade. Na família dele, ninguém chegou ao ensino superior. O rapaz concluiu o ensino médio em uma escola pública e ontem comemorou a principal novidade anunciada para o próximo vestibular da Universidade Federal de Goiás (UFG): a instituição aprovou as cotas raciais e sociais. Do total de mais de 4,4 mil vagas, 10% serão reservadas para alunos de escolas públicas e outros 10% para candidatos negros, também provenientes de escolas públicas.
O sistema de cotas faz parte de uma série de medidas do Programa UFG Inclui, que o Conselho Universitário (Consuni) aprovou na manhã de ontem por 33 votos favoráveis, três contrários e três abstenções. A pró-reitora de Graduação Sandramara Chaves explica que, para a segunda fase do vestibular, serão convocados a mais 20% de candidatos de escolas públicas e mais 20% de negros de escolas públicas.
Na segunda etapa, 10% das vagas de cada um dos mais de 80 cursos da UFG serão reservadas para candidatos participantes do sistema de cotas. O candidato deve optar pelo sistema universal ou pelo sistema de cotas no ato da inscrição do vestibular. A opção é válida para alunos que cursaram os últimos 5 anos em escolas públicas. O programa prevê uma vaga adicional em cada curso para indígenas e negros quilombolas, se houver demanda.
Diego, que trabalha como au-xiliar administrativo para se manter, conta que não tem condições de pagar um curso particular. Ele concluiu o ensino médio em 2005 e não conseguiu ser aprovado no vestibular da Universidade Fede-ral do Tocantins (UFT). Pela pri-meira vez, vai tentar uma vaga na UFG e aguarda, ansioso, a abertura do curso de Engenharia Ambiental. O estudante, que é negro, considera importante o sistema de cotas. “Nosso ensino público é carente, ainda mais na minha cidade. Este é um passo muito grande na educação. Meu sonho é fazer uma faculdade, por isso estou aqui”, comenta o jovem, que diz incentivar a irmã, manicure, a voltar aos estudos.
Adriano da Silva Cruz, 22, também é negro e estudou em escola pública. No ano passado, pres-tou vestibular para Medicina Ve-terinária na UFG, sem sucesso. Semestre passado começou um cursinho. “Este ano eu consigo passar. Além do esforço, o sistema de cotas vai me ajudar a entrar na universidade”, opina.
Denise Carvalho, secretária de Estado de Políticas para Mulheres e Promoção da Igualdade Racial (Semira), elogia a iniciativa da UFG. “Neste país, onde a exclusão dos negros é histórica e secular, precisamos de ações afirmativas como essa. É uma forma de discriminação positiva para que se possa romper a discriminação negativa”, analisa.
VESTIBULAR TERÁ MAIS 19 CURSOS
As mudanças no vestibular da UFG começam já no ato de inscrição. A universidade vai ampliar de 3 mil para 5 mil o número de isenções. O processo seletivo contempla a inclusão do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem), que pode representar 20% da nota do vestibular. O próximo vestibular também terá mais 19 cursos novos, com 1.070 vagas que serão somadas às atuais 3.300.
Os novos cursos serão abertos nas unidades da UFG em Goiânia, Catalão, Jataí e Cidade de Goiás. A medida faz parte do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni).
As provas também terão mudanças: 20% serão compostas por questões interdisciplinares. O programa UFG Inclui será reavaliado anualmente e tem validade de 10 anos. O edital do vestibular será publicado no dia 15 de agosto, já com as mudanças. As inscrições começam em setembro.
As provas da primeira fase serão aplicadas no dia 23 de novembro, e as da segunda estão previstas para 14 e 15 de dezembro.
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Muito axé e militância pessoal e obrigado pelos comentários.