sábado, 10 de janeiro de 2009

REVISTA EM QUADRINHOS SOBRE A REVOLTA DA CHIBATA

Retirado do site do Jornal do Brasil.

No dia 22 de novembro de 1910, os marinheiros do encouraçado Minas Gerais tomaram o controle do navio após luta e derramamento de sangue. Indignados com os maus tratos, sobretudo a péssima alimentação e as punições com palmatória e chibata, os marujos liderados por João Cândido conseguiram adesão dos demais companheiros, que também se amotinaram em outras embarcações.
Conhecida como A Revolta da Chibata, a ação teve efeito imediato na cidade do Rio de Janeiro, então capital da república, com navios enormes apontando seus canhões para terra. Apesar de concedida a anistia aos revoltosos pelo Marechal Hermes da Fonseca, sucederam-se uma série de prisões e assassinatos dos envolvidos, até hoje não explicados. Preso, torturado e internado num hospício, João ficou conhecido como Almirante Negro, inspirando outras rebeliões em prol da igualdade entre negros e brancos.
Nesta envolvente história da dupla cearense Olinto Gadelha (roteiro) e Hemeterio (arte), toda em preto e branco, o leitor é convidado a reviver aqueles dias de tensão na baía de Guanabara e o drama que acompanhou João Cândido até sua morte, em 1969, aos 89 anos de idade. O traço ora caricatural ora artístico encontra berço no uso inteligente do contraste e do enquadramento cinematográfico com uma grande riqueza de detalhes – por exemplo, na cena de Oswald de Andrade com o bonde 22 passando atrás, em alusão a Semana de Arte de 1922, e na redação dos Diários Associados em 1944 durante a 2ª Guerra Mundial.
Também transparecem influências do surrealismo, a mistura de ação e humor que o falecido Will Eisner usou tão bem nas histórias do Spirit e a técnica de fusão de imagens. A passagem de uma cena para outra utilizando as mesmas posições, transição que Dave McKean fez com maestria no clássico Orquídea Negra (1989), foi assimilado e bem executado por Hemeterio. Impossível não ler sem visualizar mentalmente a seqüência de imagens. Além de uma bela homenagem a tão importante luta pela liberdade, o álbum Chibata! (Conrad Editora) daria um bom desenho animado, algo fundamental de se pensar em tempos onde tudo converge para telas de todos os tamanhos.

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Muito axé e militância pessoal e obrigado pelos comentários.