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11/02 - 07:11 - Leda Balbino, IG São Paulo
País corre risco de repetir estado de desintegração e de conflito de outros países africanos se não coibir processo que leva a recuo econômico e prejudica desenvolvimento de classe média negra
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A cientista política sul-africana Amanda Gouws, da Universidade Stellenbosch, diz ser cética em relação às perspectivas políticas da África da Sul. Para ela, os líderes atuais do Congresso Nacional do Povo (CNA), partido no poder há 16 anos, fracassam em evitar a implosão do governo local e não suprem os serviços básicos da população. "Nos últimos cinco anos, revela, houve 8 mil protestos pela falta da entrega de serviços básicos", afirmou ao iG. Leia a seguir os principais trechos da entrevista.
Qual o principal legado de Mandela para a África do Sul?
É o da reconciliação e tolerância. Ele é um político de muitos princípios que trabalhou muito duro para libertar a África do Sul e construir uma nação não-racial integrada. Ele é um ícone de reconciliação e paz.
Quais são as principais diferenças entre Mandela e seus sucessores: Thabo Mbeki (1999-2008) e, agora, Jacob Zuma?
Diferentemente de Mandela, Mbeki é um nacionalista que conseguiu dividir o país em linhas políticas com suas duas teorias de nação: uma branca e rica, outra negra e pobre. Sob Mbeki, a ação afirmativa e os programas para fortalecer os negros economicamente se tornaram as principais forças da política governamental, marginalizando muitos brancos. Mbeki confundiu críticas válidas sobre a política de governo com racismo e frequentemente fez uso do argumento racial para silenciar a oposição. Suas políticas negacionistas em relação ao HIV/aids causaram muitas mortes. Já Zuma é um populista e um tradicionalista que pôs as questões de etnia no cenário político (Zuma é da etnia zulu, a maior do país). Seus casamentos polígamos, assim como suas relações sexuais com várias parceiras, mancharam sua credibilidade e o tornaram vulnerável ao escárnio da oposição.
Desde a chegada de Mandela ao poder, em 1994, o Congresso Nacional Africano (CNA) é o poder hegemônico no país. Quais são os principais problemas que o partido e seus líderes enfrentam?
Um dos maiores problemas são as divisões no CNA. Há uma constante tensão e conflito entre o CNA e seus parceiros de aliança – o Partido Comunista Sul-Africano e o Congresso dos Sindicatos Sul-Africanos – sobre as políticas econômicas e a escolha do sucessor do Zuma. A Liga Jovem do CNA está se esfacelando com líderes populistas. O segundo maior problema é a implosão do governo local e a falta da entrega de serviços básicos à população. Nos últimos cinco anos, houve 8 mil protestos por esse motivo.
E quais as conseqüências do monopólio do CNA à política do país?
O domínio de um partido é um grande problema, porque torna a oposição ineficaz e leva à fusão do interesse do Estado com o do partido. Também encoraja a corrupção e o clientelismo, porque a oposição é muito pequena para fiscalizar todas as questões políticas e todos os departamentos do governo.
Após a eleição de 2009, surgiu uma oposição mais forte no país?
Não muito. Ainda não sabemos qual a posição de Zuma em várias questões. Mas como aspectos positivos há o fato de que a oposição conquistou mais apoio e governa a importante Província do Cabo Ocidental. E há o novo partido Congresso do Povo, formado por dissidentes do CNA, que atualmente é a oposição em sete das nove províncias do país – mas ainda com pouco apoio.
Quais são as perspectivas políticas do país?
Sou muito cética em relação a isso. Acho que, se não suspendermos o crescimento do populismo, acabaremos mergulhando cada vez mais no clientelismo e num retrocesso que diminuirá o crescimento econômico e o desenvolvimento de uma classe média negra. Isso promoverá um estado de desintegração e de conflito constante – como vemos em muitos outros países da África.
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Muito axé e militância pessoal e obrigado pelos comentários.