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Pesquisadora defende políticas públicas que coloquem brancos e negros nas mesmas condições de oportunidades
Priscilla Borges, iG Brasília
23/05/2010
Foto: Marcos Brandão/OBrittoNews
Amintas da Silva é diplomata
Desbravar espaços restritos exige oportunidades. A chance de mudança na vida de Amintas da Silva, 32 anos, veio de um programa de ação afirmativa. Parecia distante o sonho de se tornar um diplomata quando começou a se preparar para o concurso, um dos mais difíceis do Executivo. Ficou próximo com capacitação adequada e recursos financeiros para bancá-la.
Amintas é um dos 168 afrodescendentes que já participaram do Programa de Ação Afirmativa do Ministério das Relações Exteriores. Criado em 2002, concede bolsas de estudos a jovens que queiram se preparar para o concurso da carreira diplomática. Com o dinheiro recebido do Itamaraty, eles bancam cursinhos, materiais didáticos e podem utilizar parte para se manter.
“Fiz o concurso quatro vezes para conseguir passar. Achei que passaria de primeira, mas trabalhava para pagar o cursinho, estudava dentro do ônibus. Não dava para competir com os meus colegas. O programa foi uma oportunidade de concorrer em pé de igualdade e foi crucial na minha vitória. Estudei durante um ano e meio com a bolsa e passei”, conta o psicólogo, que cursou a Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Não há cotas no concurso de diplomacia para negros. O que programa faz é ajudar os candidatos a se preparar. Por isso, na opinião de Amintas, o projeto é louvável. “É uma percepção de que é preciso mudar as coisas e isso é feito da melhor maneira possível”, diz. Apesar da ajuda do Itamaraty, a aprovação dos bolsistas no concurso ainda é baixa. De 2002 até hoje, 15 jovens foram aprovados, o que representa 8% .
Os bolsistas são poucos diante do extenso quadro de 1,4 mil profissionais que atuam como diplomatas. O Itamaraty não sabe informar se há outros negros no corpo diplomático. Assim como em outros órgãos, faltam estatísticas nesse sentido. Amintas admite que já está acostumado a ser minoria e a enfrentar preconceitos.
Amintas conta que, mesmo em Salvador, onde a maior parte da população é negra, ele era um dos poucos negros da turma. “Apesar da mistura étnica da minha cidade, causava estranhamento ver que, em uma sala de aula de 30 ou 40 alunos, apenas dois ou três eram negros. Tenho servido de exemplo para vários colegas brancos e negros pobres. Sinto-me feliz por servir de inspiração e mostrar que lutando se consegue”, afirma.
Renda díspar
O salário inicial de um diplomata é de R$ 12 mil. A renda mensal coloca Amintas em uma posição bastante diferente da maioria da população negra do País. Os negros ganham metade dos brancos, de acordo com a Pesquisa Mensal de Empregos feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística nas seis regiões metropolitanas do País: Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre.
Os dados são analisados todos os meses pelo Laboratório de Análises Estatísticas Econômicas e Sociais das Relações Raciais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Em abril, o rendimento médio dos trabalhadores brancos foi de R$ 1.793,62 e o de pretos e pardos, R$ 929,95. A diferença entre homens brancos e mulheres negras é ainda mais gritante: R$ 2.075,20 contra 770,88. A taxa de desemprego também é maior entre a população negra: 6,4% entre os brancos e 8,5% entre os negros.
Estudo realizado pelo Instituto de Políticas Econômicas Aplicadas (IPEA) em 2008 mostra que, caso o ritmo baixo de queda entre as diferenças salariais das duas populações forem mantidos, haverá igualdade racial na renda domiciliar per capita apenas em 2029.
Tatiana Silva, pesquisadora da Diretoria de Estudos e Políticas Sociais do Ipea, afirma que, embora as diferenças de oportunidades educacionais e profissionais tenham reduzido entre a população negra e a branca, ela ainda existe. “A mulher negra e o homem branco estão em extremos opostos. A desigualdade racial persiste.”
Para Tatiana, o caminho para que haja igualdade racial ainda é longo. E exigirá esforços de políticas públicas. A pesquisadora garante que a diferença de valorização profissional permanece mesmo quando brancos e negros são colocados em situações semelhantes de escolaridade, localidade e postos de trabalho. “Um negro com mais de 11 anos de estudo ganha R$ 1.640, enquanto um branco ganha R$ 2.448”, ressalta.
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