Retirado do jornal O Dia
11/4/2008 01:25:00
Universidades saem à caça de estudantes do Ensino Médio que se adaptem aos critérios do benefício. Houve redução de 75,5% nas inscrições na Uerj e Uenf, onde sobraram 1.335 vagas
Daniela Dariano e Maria Luisa Barros
Rio - Há cinco anos, o sistema de cotas abriu as portas do ensino superior para estudantes carentes. Hoje eles estão deixando de bater à porta das universidades. Desde o início da lei, em 2003, o número de candidatos caiu 75,5% na Uerj e na Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf). Como eles não estão indo até as faculdades, elas decidiram ir ao encontro dos alunos do Ensino Médio. As universidades estaduais têm ido às salas de aula para convencê-los a usar um direito que é deles.
No vestibular 2008 das duas instituições, foram oferecidas 2.632 vagas para estudantes negros, oriundos da rede pública, portadores de deficiência, indígenas e filhos de policiais e bombeiros. Sobraram 1.335 vagas para cotistas. E, mesmo que todos os inscritos no exame tivessem sido aprovados, ainda assim o número seria insuficiente para ocupar todas as carteiras reservadas: restariam 535 lugares. As vagas não preenchidas são ocupadas por não-cotistas.
O fenômeno tem intrigado reitores, pesquisadores e o estado. “É muito triste. Essa queda está acontecendo aos nossos olhos e nós não sabemos ainda avaliar o que está acontecendo”, diz Líliam Bahia, pró-reitora de Graduação da Uenf. Este ano, a instituição ofereceu 105 vagas para negros, mas só 15 alunos se inscreveram e sete se classificaram.Preocupada com a sobra de vagas para cotistas, a Uerj iniciou estudo para identificar as causas do problema. “Este ano, aniversário de 5 anos da lei de cotas, teremos que trabalhar para dar essa resposta”, afirma a pró-reitora interina de Graduação da Uerj, Hilda Maria Montes Ribeiro de Souza.
Uma das hipóteses levantadas pelas universidades e por pesquisadores é a de que havia uma demanda reprimida que já teria sido sanada. Nesse caso, a solução seria recalcular, diminuindo o percentual de reserva de vagas, que hoje é de 45% (20% para negros, 20% rede pública e 5% para os demais).
Outra possibilidade é que os estudantes estejam migrando para faculdades particulares, atraídos pela bolsa-auxílio do Programa Universidade para Todos (ProUni) e com a vantagem de cursar a faculdade mais perto de sua casa, em que o custo com transporte é menor. O ProUni financia as mensalidades até o fim do curso. A Lei de Cotas dá ajuda de custo — de R$ 193 na Uerj e de R$ 214 na Uenf — para alunos do primeiro ano.
Aluna da primeira turma de cotistas da Uerj, Rachel Cabral da Silva, 22 anos, aponta outra razão para a sobra de vagas. “Não há divulgação nas escolas sobre as cotas raciais e ações afirmativas”, queixa-se a estudante de Geografia. Em 2003, ela concorreu com 8.533 candidatos pela reserva de vagas. No último vestibular, a disputa foi mais fácil: apenas 2.097 inscritos.
Em outubro do ano passado, escolas de Ensino Médio de 22 municípios do Norte e Noroeste fluminense começaram a receber orientação da Uenf sobre Direitos Humanos. “As escolas não estavam preparadas para receber e discutir a política de cotas”, afirmou Líliam Bahia.
Na Uerj, um trabalho semelhante é realizado no programa Proiniciar. “Meu trabalho é ir às escolas. Explico o vestibular e o sistema de cotas. As escolas do estado, onde estão os alunos mais carentes, ligam e me convidam. Converso com os meninos do 3º ano”, conta a professora do do departamento de seleção acadêmica Maria Inês Melo Guimarães.
Projeto prevê bolsa durante todo o curso
A extensão da assistência estudantil a cotistas para todo o curso universitário é uma das medidas previstas no anteprojeto de lei que vai substituir a Lei de Cotas a partir de setembro. Os candidatos aprovados no vestibular 2009 da Uerj e Uenf, cujas inscrições começaram ontem pela Internet, já seriam beneficiados com as mudanças na nova lei.Outra alteração prevista no projeto é a inclusão de estudantes oriundos da rede pública de qualquer estado brasileiro. Atualmente, apenas quem cursa o Ensino Médio nas escolas fluminenses pode se candidatar às vagas reservadas nas universidades do estado. Para a comunidade acadêmica, a iniciativa é vista como uma das soluções para tentar reduzir a queda no número de inscritos nas cotas.
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Muito axé e militância pessoal e obrigado pelos comentários.